O Supremo Tribunal Federal (STF) entra na reta final dos julgamentos sobre a trama golpista de 8 de janeiro e se organiza para dedicar 2026 a uma nova frente de temas sensíveis. Com a conclusão do último núcleo do caso, cuja análise estava prevista para começar nesta terça-feira (9), a Corte deve redirecionar esforços para processos envolvendo desvio de emendas parlamentares, investigações sobre o crime organizado e desdobramentos que ainda atingem integrantes da família do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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Logo no início do próximo ano, a Primeira Turma do STF terá pela frente um dos julgamentos mais aguardados da área criminal: o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). A análise foi marcada para o fim de fevereiro e envolverá Chiquinho Brazão, o conselheiro Domingos Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, além de outros dois acusados. Todos negam envolvimento. O processo estava liberado desde junho, mas aguardava a finalização dos julgamentos sobre a tentativa de golpe.
O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, conduz também outras investigações prioritárias. Na semana passada, em decisão paralela, determinou a prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), apontando indícios de obstrução de Justiça. No mesmo despacho, Moraes indicou que vai aprofundar a apuração sobre o que classificou como “infiltração política” de organizações criminosas no estado do Rio de Janeiro, um dos focos de um inquérito derivado da ADPF das Favelas.
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Além dos casos criminais envolvendo autoridades fluminenses, o STF deve avançar no julgamento de ações sobre o uso irregular de emendas parlamentares. Um processo que já está pronto para ir ao plenário da Primeira Turma mira os deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e o suplente Bosco Costa (PL-SE), suspeitos de comercializar emendas. Todos negam desvios. O relator, ministro Cristiano Zanin, já pediu a inclusão em pauta, o que só deve ocorrer no próximo ano.
Embora essa ação seja a mais adiantada, o Supremo acompanha outras investigações sobre o tema, muitas ainda sob sigilo, que já motivaram operações da Polícia Federal. A tendência é que a Corte receba novos desdobramentos ao longo de 2026, à medida que a PF avança na coleta de provas sobre redes de intermediação de verbas públicas.
No campo político, parte dos processos ligados à tentativa de golpe continua ativa. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tornou-se réu por coação, acusado de pressionar autoridades dos Estados Unidos para sancionar integrantes do Judiciário brasileiro. O julgamento de mérito deve ocorrer no próximo ano. Em publicações recentes, o deputado afirmou que não atuou pela absolvição do pai, mas em defesa de uma anistia ampla aprovada pelo Congresso, e voltou a acusar o STF de agir politicamente.
Outro investigado, o influenciador Paulo Figueiredo Filho, foi denunciado em duas frentes relacionadas ao caso. Por morar nos Estados Unidos, porém, não pôde ser formalmente notificado, o que impede a tramitação da ação. Ele afirma ser alvo de perseguição e diz que as acusações são infundadas. Eduardo Bolsonaro também está no exterior, mas como havia atualizado sua mudança apenas recentemente, foi notificado por meio de publicação no Diário de Justiça, permitindo o prosseguimento do processo.
O cerco judicial também alcança Carlos Bolsonaro (PL-RJ). Em junho, a Polícia Federal o indiciou no inquérito que apura uma estrutura paralela de inteligência na Abin. O relatório aponta sua suposta participação no esquema, além de mencionar o ex-presidente Jair Bolsonaro. O caso aguarda manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se apresenta denúncia ou arquiva o procedimento. Carlos nega envolvimento e diz nunca ter recebido informações repassadas por agentes da Abin.









