Senado aprova cotas de 30% para negros e indígenas em concursos

Em uma votação significativa para a promoção da igualdade racial no Brasil, o plenário do Senado Federal deu o aval ao projeto de lei que não apenas restabelece, mas também expande a política de cotas raciais para o ingresso no serviço público federal.

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A proposta, que agora aguarda a sanção presidencial para se tornar lei, eleva de 20% para expressivos 30% o percentual de vagas reservadas para candidatos negros (pretos e pardos), indígenas e quilombolas em concursos públicos e processos seletivos simplificados para atender necessidades temporárias de excepcional interesse público. A medida representa um passo importante para aumentar a representatividade desses grupos historicamente marginalizados dentro da administração pública federal direta, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista controladas pela União.

A retomada da Lei de Cotas no Serviço Público surge após a expiração da legislação anterior, gerando debates sobre a continuidade de políticas afirmativas no país. O projeto aprovado no Senado não apenas preenche essa lacuna legal, mas também introduz um aumento significativo no número de vagas reservadas, sinalizando um reconhecimento da persistência das desigualdades raciais e da necessidade de ações mais robustas para combatê-las.

O relator do projeto, senador Humberto Costa (PT-PE), defendeu com veemência a importância da medida, argumentando que ela é crucial para corrigir uma histórica sub-representação da população negra e parda no funcionalismo público brasileiro. Em seu pronunciamento, o senador destacou a disparidade entre a composição étnico-racial da sociedade brasileira e a sua representação nos quadros do serviço público.

“Nós temos uma população no Brasil que tem uma composição étnico racial muito definida. No entanto, essa representação não está marcada, por exemplo, no funcionalismo público. As cotas são uma maneira de nós enfrentarmos o problema histórico, estrutural, que é o do racismo. Com essas cotas nós vamos garantir que negros e pardos no Brasil possam ter uma representação no funcionalismo público semelhante à que temos na sociedade”, afirmou o relator, sublinhando o caráter reparatório e inclusivo da política de cotas.

Um dos pontos centrais do projeto, e que recebeu destaque durante a tramitação no Senado, é o estabelecimento de mecanismos para garantir a correta aplicação das cotas e prevenir fraudes. O autor da proposta, senador Paulo Paim (PT-RS), detalhou a previsão de que as bancas examinadoras dos concursos públicos e processos seletivos simplificados deverão constituir uma comissão de especialistas em relações étnico-raciais. Esta comissão terá a responsabilidade de confirmar a auto-declaração dos candidatos que se inscreverem para as vagas reservadas, utilizando normas nacionais e critérios mistos de avaliação que levem em consideração os contextos sociais, culturais e regionais dos candidatos.

Além disso, o projeto de lei estabelece que qualquer decisão de negar a um candidato a condição de cotista deverá ser tomada de forma colegiada e por unanimidade pelos membros da comissão de especialistas. Essa exigência visa garantir uma análise mais criteriosa e justa dos casos, além de oferecer ao candidato a possibilidade de interpor recurso contra a decisão, assegurando o direito ao contraditório e à ampla defesa.

Outro aspecto relevante da proposta aprovada pelo Senado é a previsão de que a política de cotas no serviço público será submetida a uma avaliação periódica, a cada dez anos. Essa medida permitirá analisar a efetividade da lei ao longo do tempo, identificar possíveis distorções e propor ajustes que se façam necessários para o aprimoramento da política, garantindo que ela continue a cumprir seus objetivos de promover a inclusão e a igualdade de oportunidades.

A aprovação deste projeto no Senado representa uma vitória para os movimentos sociais e para aqueles que defendem a necessidade de políticas afirmativas como instrumentos de combate ao racismo estrutural e de promoção da justiça social no Brasil. A ampliação da reserva de vagas para 30% e a criação de mecanismos de verificação da auto-declaração demonstram uma preocupação em tornar a política de cotas mais eficaz e transparente.

A expectativa agora se volta para a sanção presidencial, que confirmará a entrada em vigor desta importante legislação. A implementação efetiva da nova Lei de Cotas no Serviço Público poderá ter um impacto significativo na composição do funcionalismo federal, tornando-o mais representativo da diversidade da sociedade brasileira e abrindo novas oportunidades para cidadãos que historicamente enfrentaram barreiras no acesso a cargos públicos.

Este é um passo crucial para a construção de um serviço público mais justo, equitativo e alinhado com a realidade multicultural do Brasil. A sociedade civil e os órgãos de controle certamente acompanharão de perto a implementação desta lei, vigilantes quanto ao seu cumprimento e aos seus efeitos na promoção da igualdade racial.

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