As negociações para a fusão entre o PSDB e o Podemos foram oficialmente suspensas nesta sexta-feira (14), após uma série de divergências entre as cúpulas das duas legendas, especialmente em relação ao comando da nova sigla que surgiria da união. A decisão foi confirmada por lideranças tucanas como o deputado federal Aécio Neves (MG) e o presidente nacional do partido, Marconi Perillo (GO).
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O entrave central girou em torno de quem assumiria a presidência da nova agremiação. Enquanto o PSDB propôs um modelo de revezamento no comando — alternando a presidência entre os partidos a cada seis meses até as eleições de 2028 —, o Podemos exigiu que a deputada federal Renata Abreu (SP), atual presidente da sigla, permanecesse no cargo por quatro anos ininterruptos.
A proposta foi considerada inaceitável pelo PSDB. “É uma exigência que não estava nem sendo cogitada e que uniu toda a direção partidária na sua rejeição. Não há possibilidade de avançar com uma fusão sob essas condições”, afirmou Aécio Neves à imprensa.
Segundo bastidores ouvidos pela CNN Brasil e pelo InfoMoney, o Podemos justificava sua posição com base em sua maior representação parlamentar: a legenda conta com 15 deputados federais e quatro senadores, contra 13 deputados e três senadores do PSDB. Mesmo assim, os tucanos defendiam um equilíbrio na condução da nova sigla e não aceitaram abrir mão da presidência por um período tão longo.
Repercussões internas e novas articulações
Com a fusão travada, o PSDB agora volta suas atenções para outras alternativas de fortalecimento político. A principal delas é a formação de uma federação partidária — modelo diferente da fusão, mas que permite alianças duradouras — com legendas como MDB, Solidariedade e Republicanos.
A intenção, segundo Marconi Perillo, é construir uma “plataforma do centro democrático”, com foco em reposicionar o partido como força política relevante no Congresso Nacional e nas eleições municipais de 2024 e gerais de 2026. A direção nacional do PSDB já iniciou diálogos informais com representantes desses partidos para avaliar a viabilidade da federação.
Internamente, a suspensão da fusão com o Podemos também é vista como um alívio por parte de setores do PSDB que viam riscos em abrir espaço demais para a outra sigla. A avaliação é de que uma fusão, nos termos propostos pelo Podemos, poderia levar ao esvaziamento da identidade tucana.
Contexto político
A tentativa de fusão entre PSDB e Podemos surgiu em um momento de fragilidade institucional de ambas as legendas. O PSDB, que governou o Brasil entre 1995 e 2002 e foi um dos principais polos da política nacional nas últimas décadas, viu sua base encolher nos últimos anos, perdeu governos estaduais importantes e enfrentou divisões internas.
Já o Podemos, embora com bancada maior na Câmara, também busca projeção nacional e estrutura partidária mais robusta — fatores que motivaram a aproximação com os tucanos.
Com o fracasso nas negociações, ambos os partidos precisarão recalibrar suas estratégias de médio e longo prazo, principalmente diante da cláusula de barreira, que exige desempenho eleitoral mínimo para garantir acesso a fundo partidário e tempo de TV.