Medida polêmica levanta críticas de organizações humanitárias e reacende debate sobre xenofobia e uso político da imigração em ano eleitoral.
O governo português anunciou nesta semana um plano para expulsar cerca de 18 mil imigrantes em situação irregular até o final do ano, com foco especial na aceleração desse processo antes das eleições nacionais marcadas para o segundo semestre. A medida, considerada por muitos especialistas como uma resposta à crescente pressão política interna e à ascensão de discursos anti-imigração, vem gerando intensos debates no país e na comunidade internacional.
Segundo o Ministério da Administração Interna, a ação tem como objetivo “restabelecer a ordem nos processos migratórios” e “garantir o cumprimento das leis nacionais”. No entanto, organizações de direitos humanos e entidades ligadas à imigração acusam o governo de promover uma “limpeza simbólica” para agradar eleitores conservadores e conter o avanço da extrema-direita nas urnas.
“O que vemos é a instrumentalização da vida de milhares de pessoas em troca de votos. A maior parte desses imigrantes está inserida no mercado de trabalho e contribui economicamente para o país”, afirma Teresa Gomes, porta-voz da ONG Solidariedade Sem Fronteiras.
Portugal, que nos últimos anos se tornou um destino atrativo para imigrantes latino-americanos, africanos e do sudeste asiático, viu crescer consideravelmente o número de solicitações de regularização. Entretanto, muitos ainda aguardam há anos a análise dos processos junto ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que recentemente passou por uma reformulação administrativa, agravando a lentidão.
Especialistas alertam que a medida pode gerar uma crise humanitária e afetar setores essenciais como construção civil, limpeza urbana e assistência domiciliar, nos quais a presença de trabalhadores imigrantes é predominante.
A oposição pede explicações mais detalhadas sobre os critérios adotados para as expulsões. “Estamos falando de seres humanos, não de números. É preciso garantir transparência, dignidade e respeito aos tratados internacionais”, declarou o deputado Miguel Salazar, do Bloco de Esquerda.
Com o país se aproximando de uma das eleições mais polarizadas de sua história recente, o destino de milhares de imigrantes torna-se mais um ponto de tensão em uma campanha marcada por promessas radicais e retórica nacionalista.