Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. A causa da morte foi um câncer no esôfago, que o mantinha sob cuidados paliativos desde o agravamento da doença.
Nascido em 20 de maio de 1935, José “Pepe” Mujica foi um dos políticos mais carismáticos da América Latina, conhecido por seu estilo de vida simples, discursos contundentes e forte compromisso com a democracia e a justiça social.
Em abril de 2024, Mujica revelou publicamente, durante uma entrevista coletiva, que havia sido diagnosticado com um tumor no esôfago. Na ocasião, ele informou que o órgão já estava comprometido e que sua condição era ainda mais delicada devido a uma doença imunológica crônica que afetava seus rins há mais de duas décadas.
Já em janeiro de 2025, o ex-presidente uruguaio revelou que o câncer havia atingido o fígado e que, por esse motivo, decidiu não prosseguir com tratamentos agressivos. “Pedi aos médicos que não me façam sofrer em vão”, declarou Mujica, reforçando sua postura serena diante da finitude da vida.
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A morte de Pepe Mujica marca o fim de um capítulo importante na história do Uruguai, deixando um legado político e humano admirado em todo o mundo.
A trajetória de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai
Antes de se tornar um dos líderes políticos mais respeitados da atualidade, Pepe Mujica teve uma trajetória marcada por luta, prisão e resistência. Fundador do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, o principal grupo guerrilheiro do Uruguai nos anos 1960 e 1970, Mujica passou mais de uma década preso e foi torturado durante a ditadura militar uruguaia. Décadas depois, chegou à presidência do país e se tornou um símbolo da esquerda latino-americana.
Durante os anos de militância clandestina, Mujica foi baleado quatro vezes em confrontos com a polícia e conseguiu fugir da prisão em duas ocasiões, até ser recapturado definitivamente em 1972. Permaneceu encarcerado até a anistia de 1985, após o fim do regime militar.
Conhecido por seu estilo de vida simples, rejeitava luxos e mantinha uma postura discreta mesmo como chefe de Estado. Vestia-se de forma despojada – criticada por alguns como desleixo – e defendia uma vida menos consumista. Durante seu mandato, promoveu políticas progressistas, como a legalização do aborto, da maconha e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que lhe rendeu reconhecimento internacional e respeito dentro e fora da América Latina.
Pepe Mujica iniciou um curso de Direito no Instituto Alfredo Vásquez Acevedo, mas não concluiu a graduação. Sua atuação política começou na juventude, aos 20 anos, quando ingressou no Partido Nacional. Mais tarde, em 1962, rompeu com a legenda e participou da fundação do grupo Unión Popular, reforçando seu compromisso com as causas populares e sociais.
Pepe Mujica e sua gestão como presidente do Uruguai
Durante seu mandato como presidente do Uruguai, entre 2010 e 2015, Pepe Mujica se destacou por promover uma política voltada para a inclusão social, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável. Sua gestão foi marcada por medidas progressistas que chamaram a atenção da comunidade internacional e colocaram o Uruguai como referência em pautas sociais e democráticas.
Entre as principais ações do seu governo, está a regulamentação do mercado da maconha, tornando o Uruguai o primeiro país do mundo a legalizar totalmente o cultivo, a venda e o consumo da substância sob controle estatal. A medida visava combater o narcotráfico e tratar o tema como questão de saúde pública.
Mujica também sancionou leis importantes como a legalização do aborto até a 12ª semana de gestação e o casamento igualitário, garantindo direitos civis a casais do mesmo sexo. Essas iniciativas reforçaram seu compromisso com a liberdade individual e a igualdade de direitos.
Outro destaque foi sua política externa independente e sua postura crítica ao consumismo. Mesmo como chefe de Estado, Pepe Mujica manteve o estilo de vida simples: morava em uma chácara na zona rural de Montevidéu, dirigia um Fusca azul e doava cerca de 90% do salário presidencial para programas sociais e instituições de caridade.
Ao seu lado esteve Lucía Topolansky, sua esposa e companheira de longa data. Durante o governo, ela atuou como senadora pela Frente Ampla e foi uma das lideranças mais influentes do parlamento uruguaio. Juntos, formaram um casal político singular: ex-guerrilheiros que chegaram ao poder com humildade e coerência, mantendo os ideais que os levaram à militância.
A atuação de Mujica como presidente do Uruguai é lembrada por sua ética política, transparência e pela coragem de enfrentar temas delicados com uma visão progressista e humana. Ao lado de Lucía, construiu um governo que deixou marcas profundas na história do país e inspirou lideranças ao redor do mundo.