Médicos legistas da ditadura se tornam réus por ocultação de cadáveres

A Justiça Federal em São Paulo aceitou denúncia por ocultação de cadáveres contra os médicos legistas Harry Shibata e Antonio Valentini , responsáveis por laudos que encobriram execuções de presos políticos durante a ditadura incluindo os casos de Antônio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones.

Em novembro de 1973, Antônio e Sônia foram mortos sob tortura, após serem presos em uma operação do DOI-CODI. O casal, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi primeiro detido em Santos, no posto rodoviário do Canal 1, e levado a um sítio clandestino na zona sul de São Paulo, local onde teriam sido torturados e assassinados.

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De acordo com a Comissão Estadual da Verdade, ambos estavam sob vigilância desde que passaram a viver em um apartamento em São Vicente vigiados por agentes infiltrados como funcionários do condomínio . Testemunhas confirmam que Antônio foi golpeado por socos, coronhadas e pontapés enquanto tentava comprar passagens, e Sônia foi algemada pelos pés dentro do ônibus .

Mantidos em um centro clandestino um antigo sítio “Serra do Mar” ou “Fazenda 31 de Março” passaram dias sob tortura. Sônia foi submetida a violência sexual e brutal mutilação, enquanto Antônio foi executado após sofrer múltiplos tiros na cabeça, tórax e ouvidos .

Os corpos foram enterrados como indigentes no Cemitério Dom Bosco (Perus), em São Paulo, sob os nomes falsos Esmeralda Siqueira Aguiar (Sônia) e sem identificação (Antônio), com narrativa oficial de que teriam morrido em um tiroteio em Santo Amaro .

Somente em 1991 houve exumações, com identificação dos restos mortais: de Antônio a partir de marcas de bala remanescentes de emboscada anterior, e de Sônia por retificação de certidões e batalhas judiciais movidas pela família .

Laudos falsos assinados por Harry Shibata, registrados mais de um ano após as mortes omitiram os ferimentos e inventaram trajetórias de projétil que não existiram, impedindo a elucidação da verdade e a responsabilização dos torturadores.

Médicos legistas denunciados por falsificação de laudos necroscópicos e ocultação de cadáveres
Foto: Harry Shibata e Antônio Valentini ambos ex-legistas denunciados por falsificação de laudos necroscópicos e ocultação de cadáveres

Para o Ministério Público Federal, os médicos agiram conscientemente para encobrir as circunstâncias reais dos assassinatos, vitimando jovens militantes e prolongando o sofrimento das famílias. A denúncia criminal coloca as fragilidades da Lei da Anistia sob nova luz, reforçando argumentos de que crimes como tortura e ocultação de cadáveres são imprescritíveis.

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