Ex-presidente da Bolívia deixa prisão após quatro anos e meio

A ex-presidente boliviana Jeanine Áñez teve sua soltura confirmada nesta quinta-feira (06), após quatro anos e meio na cadeia, acusada de golpe de Estado. A ex-mandatária foi presa em 2021 e condenada a 10 anos de prisão em 2022. Sua liberdade coincide com a posse de um presidente de direita, marcada para este sábado (08), eleito após quase 20 anos de domínio da esquerda.

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A sentença foi anulada pelo Tribunal Superior de Justiça da Bolívia nesta quarta-feira (05).

Como Áñez ascendeu ao poder?

Em meio a protestos violentos em 2019, o então presidente Evo Morales renunciou ao cargo 21 dias após ser reeleito pela quarta vez consecutiva. Junto com ele, também renunciaram o vice-presidente Álvaro García Linera, a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, e o presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda.

O governo vigente estava sob acusações de fraude nas eleições de 2019, após denúncia da Organização dos Estados Americanos (OEA) de irregularidades. Morales anunciou que planejava realizar novas eleições, mas, antes que pudesse tomar qualquer atitude, os chefes das Forças Armadas e da Polícia, além da oposição, “convidaram” Evo Morales a renunciar para que as tensões fossem pacificadas.

Com essas quatro renúncias, Jeanine Áñez tornou-se a sucessora natural na linha de comando, por ser vice-presidente do Senado. Foi convocada uma sessão no Senado para discutir quem seria o próximo governante, mas a reunião não ocorreu por falta de quórum.

Vale mencionar que o partido de Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), que detinha dois terços das cadeiras do Senado, alegou não se sentir seguro para participar da sessão. Assim, Jeanine Áñez se declarou presidente interina da Bolívia em 12 de outubro de 2019, sendo reconhecida logo depois pelo Tribunal Constitucional da Bolívia.

O governo de Áñez

Áñez chegou ao poder prometendo realizar novas eleições “o mais rápido possível”, seguindo as recomendações da OEA, e afirmou que não participaria delas. No entanto, em janeiro de 2020, mudou de ideia e anunciou sua candidatura, retirada no final de setembro do mesmo ano. Segundo ela, a decisão foi tomada “para que Evo não voltasse”.

As eleições ocorreram no final de 2020, com atraso devido à pandemia de Covid-19. Durante o governo da deputada de extrema direita, as relações com Venezuela e Cuba, parceiros históricos da Bolívia, foram rompidas. Além disso, Áñez reprimiu fortemente movimentos de oposição, e uma investigação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) apontou 35 mortes em manifestações nos primeiros meses de seu governo.

Para acirrar ainda mais a contestação do governo interino, estudos acadêmicos publicados em 2020 analisaram o método utilizado pela OEA e concluíram que as análises sobre as eleições de 2019 estavam incorretasnão havia ocorrido fraude.

Nesse contexto, Luis Arce, então membro do MAS, foi eleito em 2020, recolocando a esquerda boliviana no poder.

A prisão de Áñez

Jeanine Áñez foi presa em março de 2021, em sua casa, sob acusações do Ministério Público (MP) de terrorismo, traição e conspiração, segundo o jornal local “La Razón”. A ex-presidente foi encontrada escondida dentro de uma cama box pelos policiais.

Jeanine Áñez sendo presa dentro de uma cama box - Foto: Agencia Boliviana de Informaión/ X
Jeanine Áñez sendo presa dentro de uma cama box – Foto: Agencia Boliviana de Informaión/ X

A ex-presidente Jeanine Áñez afirmou que “a perseguição política já começou”, por meio de uma publicação em sua conta na rede X (antigo Twitter).

Áñez foi condenada em junho de 2022 a 10 anos de prisão, acusada de ter realizado um golpe contra seu antecessor, Evo Morales. A defesa alegou que Jeanine fora reconhecida como presidente pelo Tribunal Constitucional Plurinacional e que o Congresso — de maioria do Movimento ao Socialismo (MAS)aprovou a prorrogação de seu mandato devido à pandemia.

No entanto, o juiz Germán Ramos, responsável pelo caso, a condenou pelos crimes de “resoluções contrárias à Constituição e violação de deveres”.

Situação política atual na Bolívia

Eleito em outubro de 2025, Rodrigo Paz vai se tornar o primeiro presidente de direita da Bolívia desde Carlos Mesa, em 2005. Em um país marcado por controvérsias políticas e historicamente socialista, Paz chega prometendo implementar um “capitalismo para todos”.

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