Às vésperas de um ano eleitoral decisivo, o Centrão intensificou a pressão sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que ele rompa um acordo com o PT e reassuma o controle direto sobre a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 — uma das chaves do poder no Congresso em ano de eleições.
Segundo parlamentares de diferentes partidos ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato, a intenção do bloco é garantir o domínio sobre a execução das emendas parlamentares impositivas, que representam bilhões de reais em transferências de recursos públicos e são vistas como fundamentais para fortalecer bases eleitorais.
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O acordo firmado entre Hugo Motta e o PT previa a indicação do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) para a relatoria da LDO. A negociação foi essencial para garantir apoio petista à eleição de Motta à presidência da Câmara.

No entanto, líderes do Centrão alegam que “é inadmissível abrir mão do controle das emendas num momento tão crítico”. Um deputado do PP afirmou:
“Se o PT quiser manter a relatoria, que abra mão de outros espaços. Não dá para centralizar tudo em ano eleitoral”.
Fontes próximas a Hugo Motta revelaram que ele ouviu as demandas e demonstrou disposição para renegociar. Segundo um interlocutor direto do presidente da Câmara, Motta teria dito em uma reunião fechada:
“Não se trata de romper acordos, mas de ajustar rotas conforme a realidade política. O Parlamento precisa de equilíbrio.”
Do lado petista, a sinalização de recuo gerou desconforto. Zarattini, cotado para assumir a relatoria, evitou comentar diretamente o impasse, mas afirmou que “acordos firmados em nome da governabilidade precisam ser honrados”.
“Trabalhamos com compromisso. Não se trata apenas de ocupar uma função, mas de garantir que o orçamento reflita os interesses sociais e os princípios defendidos pela base do governo” – declarou o deputado.
A LDO é um dos instrumentos centrais na gestão das finanças públicas federais. Ela orienta a elaboração do orçamento anual e estabelece metas fiscais, limites de despesas e critérios de priorização de gastos. Em ano eleitoral, o debate em torno da LDO se acirra, pois influencia diretamente no calendário e no volume de liberação das emendas parlamentares.
Em 2024, o Congresso aprovou um cronograma para execução das emendas, mas o presidente Lula vetou o trecho. O impasse só foi resolvido com um compromisso informal de antecipar parte dos repasses.
Agora, em 2025, a disputa pela relatoria da LDO é vista como um termômetro da tensão entre Executivo e Legislativo. Para a cientista política Maria Clara Vieira, da Universidade de Brasília, “o Centrão busca maximizar sua capacidade de barganha antes do pleito, e o controle da LDO é peça-chave nesse xadrez”.
Ela completa:
“A relatoria da LDO não é apenas técnica. Ela tem peso político considerável, sobretudo porque afeta diretamente a liberação de recursos nos redutos eleitorais dos deputados”.
Hugo Motta ainda não oficializou nenhuma mudança de planos. A expectativa é de que uma definição ocorra nas próximas semanas, após conversas com o presidente Lula e líderes da base.
Enquanto isso, cresce o mal-estar entre aliados do governo e integrantes do Centrão, que disputam palmo a palmo o controle da máquina pública — com os olhos voltados para outubro de 2026.