A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi incluída, nesta quinta-feira (5), na lista de difusão vermelha da Interpol, a pedido do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão transforma Zambelli em alvo internacional, permitindo que seja presa em qualquer um dos 196 países membros da organização policial.
A inclusão na lista ocorre poucos dias após a parlamentar deixar o Brasil, logo depois de ser condenada a 10 anos de prisão pela Primeira Turma do STF. A condenação está ligada à invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorrida em 2023 — episódio que, segundo a corte, teve articulação ativa e dolosa da deputada.
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“A parlamentar agiu com pleno conhecimento e intenção de desestabilizar o sistema judicial”, argumentou Moraes, na decisão que embasou o pedido à Interpol.
Além do pedido de inclusão na difusão vermelha, o ministro do STF determinou a prisão preventiva de Zambelli, o bloqueio de bens e contas bancárias, a suspensão dos passaportes e a remoção de seus perfis em redes sociais. Plataformas como Meta, X (antigo Twitter), TikTok, Telegram, LinkedIn, Gettr e YouTube foram notificadas e devem remover os perfis da deputada em até duas horas, sob pena de multa diária de R$ 50 mil.
“Há risco concreto de fuga definitiva e de uso das redes para incitação de desordem pública e descrédito às instituições”, escreveu Moraes.
Zambelli atualmente se encontra na Itália, segundo sua própria assessoria. Em nota enviada à imprensa, a deputada acusou Moraes de perseguição política e alegou que vai levar o caso a organismos internacionais:

“Sou vítima de um processo autoritário e parcial. Esta não é uma justiça, é uma caça às bruxas.”
Apesar da retórica combativa, juristas apontam que a situação da parlamentar é delicada do ponto de vista jurídico e diplomático. A inclusão na difusão vermelha indica que a Interpol acolheu os argumentos do Supremo, o que não é comum em casos envolvendo figuras políticas brasileiras. Nos últimos anos, ao menos dois pedidos semelhantes foram negados.
“O fato de a Interpol ter aceitado o pedido sugere a solidez das evidências apresentadas pelo Brasil”, explicou um especialista em direito internacional ouvido pela CNN Brasil.
Outro ponto sensível diz respeito à cidadania italiana de Carla Zambelli. Por possuir dupla nacionalidade, sua eventual extradição dependerá das autoridades italianas, mesmo com a existência de tratado bilateral entre os dois países.
“Mesmo com tratado, a extradição não é automática. Envolve avaliação do Judiciário italiano e pode esbarrar em decisões políticas”, afirmou o professor de relações internacionais, Marco Tavares.
Essa é a primeira vez que Zambelli figura como foragida internacional, e a sétima brasileira a integrar a lista de difusão vermelha da Interpol. O caso acirra ainda mais o embate entre o STF e setores do bolsonarismo, grupo ao qual Zambelli pertence e que já classificou as ações judiciais como “ditatoriais”.
O que significa estar na lista vermelha da Interpol
A difusão vermelha é o alerta mais grave emitido pela Interpol. Ela funciona como um pedido internacional de prisão, com base em mandado emitido por autoridade judicial de um país-membro. Com isso, a pessoa incluída passa a ser considerada foragida internacional e pode ser detida provisoriamente em qualquer lugar do mundo, até que o processo de extradição seja analisado.

Diferentemente de um mandado de prisão global, a difusão vermelha não obriga os países a prenderem a pessoa, mas facilita e orienta as autoridades locais a colaborarem com a justiça do país solicitante. No caso de Zambelli, a medida tem peso simbólico e jurídico, elevando o grau de pressão internacional sobre seu paradeiro.