O general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro, prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), encerrando os interrogatórios dos réus apontados como principais articuladores da tentativa de golpe de Estado de 2022.
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Durante sua fala, ele negou envolvimento em qualquer conspiração para subverter a democracia e reafirmou que nunca coordenou ou autorizou ataques a comandantes militares.
“Jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares”
Braga Netto respondeu a acusações de que teria tentado pressionar os então comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior. Segundo a investigação, mensagens e relatos indicam que ele teria sugerido ações contra os dois por se oporem a medidas antidemocráticas. Ele negou veementemente:
“Jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares. Pelo contato que eu tinha com eles, se eu tivesse que falar alguma coisa, eu falaria pessoalmente com eles.”
Ainda sobre essa narrativa, reforçou:
“Nunca ordenei, nem coordenei ataques virtuais ou ações de pressão.”
Negativas sobre envolvimento em golpe
O general foi categórico ao afirmar que não participou de qualquer tentativa de ruptura institucional:
“Jamais houve tentativa de golpe de Estado. Isso nunca existiu da minha parte.”
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Ele também negou ter incentivado ou financiado ações golpistas, inclusive envolvendo o pagamento a grupos que atuavam virtualmente:
“Não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid.”

Pedido de liberdade após fase de instrução
Com o fim dos interrogatórios da fase de instrução processual, a defesa de Braga Netto protocolou pedido de revogação da prisão preventiva, sustentando que:
“Não há mais risco à coleta de provas ou à instrução. A prisão se tornou desnecessária.”
Os advogados sugerem que medidas alternativas, como uso de tornozeleira eletrônica, seriam suficientes para garantir o cumprimento das obrigações judiciais.
Diálogo com Moraes traz alívio momentâneo
Em meio ao interrogatório, houve um breve momento de descontração entre o general e o ministro Alexandre de Moraes:
– Moraes: “O senhor já foi preso alguma vez?”
– Braga Netto (sorrindo): “Estou preso, senhor presidente.”
– Moraes (também sorrindo): “Eu sei que está preso. Fui eu quem decretei.”
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Negação de obstrução e tentativa de interferência
Braga Netto também é investigado por possível obstrução da Justiça, ao supostamente tentar acessar trechos sigilosos da delação de Mauro Cid. Sobre isso, afirmou:
“Não acessei delações, não pedi relatórios e nunca orientei ninguém a alterar versões.”
E acrescentou:
“Quem me liga é o pai do Cid. Eu nunca entrei em contato com ele e perguntei nada sobre delação premiada.”
Sobre o dinheiro citado por Mauro Cid, Braga Netto foi enfático em sua negativa. Ele afirmou que não entregou qualquer recurso financeiro para financiar o suposto plano golpista. Em suas palavras:
“Não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid.”
O general reforçou que não teve envolvimento com repasses financeiros ou apoio monetário a qualquer pessoa para a execução de medidas antidemocráticas ou conspiratórias, rejeitando, assim, as alegações feitas por delatores que tentam ligar seu nome ao financiamento da trama.
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Julgamento se aproxima
Com a instrução encerrada, o processo segue para a fase de alegações finais. A decisão sobre manter ou revogar a prisão preventiva de Braga Netto agora está nas mãos do relator Alexandre de Moraes.
Os ministros do STF devem votar até o fim do ano sobre a responsabilização criminal dos principais nomes envolvidos na trama que tentou minar o processo eleitoral e o regime democrático.
STF conclui interrogatórios do “núcleo crucial” da trama golpista e avança para fase decisiva da ação penal
O Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou a fase de instrução processual ao concluir o interrogatório de oito réus apontados pela Procuradoria-Geral da República como integrantes do “núcleo crucial” da organização criminosa que tentou o golpe de Estado em 2022. Entre os ouvidos nos últimos dois dias estão nomes como Jair Bolsonaro, Mauro Cid, Alexandre Ramagem e Walter Braga Netto.
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Com essa etapa concluída, inicia-se o prazo para que acusação e defesa solicitem diligências adicionais — medidas complementares de investigação que podem aprofundar as apurações com base no material já colhido. Caberá ao ministro Alexandre de Moraes decidir sobre a pertinência desses pedidos.
Após o período de diligências, abre-se a fase das alegações finais, na qual acusação e defesa terão 15 dias para apresentar, por escrito, seus resumos e argumentos para condenação ou absolvição. A partir daí, o processo será levado a julgamento pela Primeira Turma do STF, que decidirá o destino dos réus. Caso haja condenação, a Turma definirá as penas aplicáveis; em caso de absolvição, o processo será arquivado, com possibilidade de recurso dentro da Corte.
Essa fase representa um momento crucial para o desfecho do caso que abala a democracia brasileira e reafirma o compromisso do Judiciário no combate às tentativas de subversão institucional.