Polarização, violência e legado: o impacto do atentado contra Miguel Uribe

No último sábado, 7 de junho, a Colômbia foi palco de um ataque que chocou o país e o mundo. O senador e pré-candidato à presidência da República, Miguel Uribe Turbay, foi vítima de um atentado a tiros enquanto participava de um comício político na zona oeste de Bogotá, capital colombiana. Segundo as autoridades locais, o autor do crime é um menor de apenas 15 anos, que foi detido no local com uma pistola.

O político foi alvejado com dois tiros, e outras pessoas que estavam no evento também ficaram feridas. Após uma cirurgia de emergência, seu estado segue sendo tratado como crítico.

LEIA TAMBÉM: Lula insinua que Ucrânia não conseguirá retomar territórios ocupados pela Rússia

Este ataque não apenas abalou a estabilidade política da Colômbia, mas também reacendeu o debate sobre a segurança de figuras públicas no país, o crescimento da violência política e as divisões profundas entre os grupos que polarizam o cenário eleitoral colombiano.


O atentado: detalhes do ocorrido e o perfil do autor

O ataque aconteceu no bairro Modelia, região da localidade de Fontibón, na zona oeste de Bogotá, durante um comício do partido Centro Democrático, legenda de direita que faz oposição contundente ao governo do presidente Gustavo Petro. Durante o evento, um menor de 15 anos, portando uma pistola Glock 9 milímetros, efetuou os disparos contra o senador Miguel Uribe Turbay.

Miguel Uribe Turbay, pré-candidato à presidência da Colômbia em comício horas antes do atentado - Foto: Reprodução
Miguel Uribe Turbay, pré-candidato à presidência da Colômbia em comício horas antes do atentado – Foto: Reprodução

De acordo com o Ministério Público colombiano, além dos dois tiros que atingiram o pré-candidato presidencial, outras duas pessoas também ficaram feridas por conta dos disparos. O menor foi imediatamente detido pelas autoridades que estavam presentes e a arma apreendida.

O governo colombiano, por meio do ministro da Defesa, Pedro Sánchez Suárez, anunciou uma recompensa de até 3 bilhões de pesos colombianos (aproximadamente 3,9 milhões de reais) para quem fornecer informações que levem à captura dos mandantes e demais envolvidos no atentado.


Estado de saúde do senador Miguel Uribe Turbay

Após o ataque, Miguel Uribe Turbay foi rapidamente internado na Fundação Santa Fé, um dos principais hospitais de Bogotá. Ele passou por uma complexa cirurgia neurocirúrgica e vascular periférica na coxa esquerda. Apesar de o procedimento ter sido considerado um sucesso pelos médicos, o estado do senador permanece crítico.

Aliados do político, incluindo a esposa María Claudia Tarazona e o deputado Christian Garcés, do mesmo partido, manifestaram otimismo em redes sociais, afirmando que:

“Miguel Uribe conseguiu sair da cirurgia. Agora, a prioridade é sua recuperação.”

A situação é considerada delicada e as próximas horas são decisivas para a estabilização do quadro clínico do político. O prefeito de Bogotá, Carlos Fernando Galán, que visitou o hospital, também reforçou que:

“O momento é de fé e esperança diante da gravidade da situação.”


Miguel Uribe Turbay é neto de Julio César Turbay, ex-presidente da Colômbia (1978–1982), e filho de Diana Turbay, jornalista que foi sequestrada e assassinada por Pablo Escobar durante a crise dos extraditáveis

Miguel Uribe ao lado de sua mãe, Diana Turbay, em foto nos anos 90 – Foto: Reprodução

Na época, os narcotraficantes colombianos realizaram uma campanha violenta contra o Estado para evitar extradição de criminosos para os Estados Unidos. Esse episódio foi narrado por Gabriel García Márquez em seu livro Notícia de um Sequestro‘.

Uribe é um forte crítico, pela direita, do presidente da Colômbia, o esquerdista Gustavo Petro.

Diante da intenção de Petro de convocar, por decreto, uma consulta popular para uma reforma trabalhista — algo que exigiria a assinatura de todos os ministros do gabinete —, Miguel Uribe Turbay declarou, horas antes do atentado, que os processaria por prevaricação (ato de um servidor público contrário à lei).

Sob o ex-presidente Álvaro Uribe, Miguel Uribe Turbay se tornou um dos senadores mais populares do país – Foto: Getty Images

Referente ao atentado, o atual mandatário da Colômbia, Gustavo Petro, reagiu ao ataque contra Uribe pelas redes sociais.

“Respeitar a vida, essa é a linha vermelha. A Colômbia não deve matar seus filhos, porque eles também são nossos filhos. Máfias da terra, escória da humanidade. Que as famílias árabes que vieram para a Colômbia vivam em paz. A Colômbia acolhe o mundo e não mata aqueles que vêm de todos os cantos do planeta.”

Mais tarde, em um discurso televisionado, Petro afirmou que o ataque contra Uribe ‘é uma falha do Estado’.

“Hoje nos derrotaram,” acrescentou.

O presidente colombiano desejou a Uribe uma rápida recuperação.

“Todos sabemos que existe uma distância política entre a família Uribe Turbay e o governo, mas é uma distância política, e a política é livre, e sempre defendemos que ela seja livre de violência.”

Ele acrescentou que “todos os protocolos, no mais alto nível, devem agora se concentrar em descobrir quem é o mandante” e ordenou uma investigação sobre a equipe de segurança do líder político e as “falhas ocorridas”, a fim de encontrar os responsáveis.


Repercussões políticas e o contexto de polarização

O atentado ocorreu em um momento eleitoral altamente polarizado na Colômbia. O partido Centro Democrático, ao qual pertence Miguel Uribe Turbay, é uma força política tradicional da direita, fortemente oposta ao governo do presidente Gustavo Petro, que é de esquerda.

Após o atentado, o presidente Petro divulgou uma mensagem de solidariedade à família do senador e ao partido, destacando a importância da vida e da paz no país. Em sua fala, ele afirmou:

“O Estado tem o dever de proteger o agressor, que é menor de idade, pois precisamos defender a criança mesmo em situações difíceis.”

Petro cancelou sua viagem para a Cúpula da ONU sobre os Oceanos, em Nice, França, para acompanhar pessoalmente o caso e reforçar as ações do governo para esclarecer o atentado.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro (foto), rechaçou o uso político da “dor da família e do próprio Miguel Uribe” - Foto: Reprodução/Getty Images
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro (foto), rechaçou o uso político da “dor da família e do próprio Miguel Uribe” – Foto: Reprodução/Getty Images

No entanto, opositores do presidente responsabilizam o ambiente político atual pelo crescimento da violência. A pré-candidata presidencial Vicky Dávila acusou Petro de fomentar “um ambiente de violência que acabou por permitir que esse atentado acontecesse.”

Ex-presidentes como Álvaro Uribe Vélez, aliado histórico da direita colombiana, também se manifestaram, classificando o atentado como

“Um ataque a uma esperança da pátria“. E manifestaram confiança nas autoridades e na justiça do país.


Investigação e resposta das autoridades

A Procuradoria-Geral da Colômbia anunciou a abertura de duas investigações criminais com quatro linhas de investigação para esclarecer os fatos, identificar não apenas o autor material — o menor detido —, mas também os possíveis mandantes e autores intelectuais.

O Ministério Público enfatizou a importância da coleta de provas físicas e digitais para construir um caso robusto que permita levar todos os responsáveis à Justiça, incluindo aqueles que possam estar por trás da operação.

As Forças Armadas, Polícia Nacional e órgãos de inteligência foram mobilizados para agir rapidamente no caso. A recompensa oferecida pelo governo é uma das maiores já anunciadas em casos de violência política no país, reforçando o compromisso do Estado em enfrentar com rigor esse tipo de crime.


Repercussão internacional e preocupações sobre violência política na América Latina

O atentado não ficou restrito ao âmbito colombiano. Internacionalmente, líderes e organismos expressaram preocupação com o episódio.

O governo brasileiro divulgou uma nota oficial condenando firmemente o ataque e manifestando solidariedade ao senador Uribe Turbay e à sua família. O comunicado ressaltou:

“Confiamos na rápida detenção do suspeito e na condução rigorosa da investigação pelas autoridades colombianas“. Leia a nota na íntegra clicando aqui.

Nos Estados Unidos, o secretário de Estado Marco Rubio condenou o atentado e apontou para

“A retórica violenta da esquerda como um fator que pode agravar a instabilidade política.”

Ele pediu moderação e proteção a políticos colombianos.

A reação de líderes e ex-presidentes colombianos, como Andrés Pastrana e Ernesto Samper, também indicou o tamanho da preocupação com o que pode significar esse tipo de violência para a democracia no país.


O cenário da segurança política na Colômbia: desafios históricos e contemporâneos

A Colômbia tem uma história marcada por altos índices de violência política, em especial contra lideranças de oposição. Durante as décadas de 80 e 90, o país enfrentou uma série de ataques, sequestros e assassinatos que envolveram cartéis de drogas, grupos paramilitares e guerrilhas. Figuras políticas emblemáticas, como Luis Carlos Galán, pai do atual prefeito de Bogotá, foram vítimas de atentados que marcaram para sempre a história nacional.

Crimes que nunca acabam: Galán foi morto por ordem de Pablo Escobar, mas continuam aparecendo culpados - Foto: Reprodução/elcolombiano.com
Crimes que nunca acabam: Galán foi morto por ordem de Pablo Escobar, mas continuam aparecendo culpados – Foto: Reprodução/El Colombiano

Embora as últimas décadas tenham registrado avanços importantes na pacificação e segurança, episódios recentes indicam que o país ainda enfrenta desafios para garantir a proteção plena de seus representantes políticos.

O atentado contra Miguel Uribe Turbay ocorre em um momento de crescente polarização política e social, com discursos radicais ganhando espaço e tensionando o ambiente eleitoral.

A questão da participação de menores em crimes violentos também levanta debates sobre políticas públicas, prevenção e a responsabilidade do Estado na proteção e reinserção social.


Impactos para o processo eleitoral de 2026

O ataque contra Miguel Uribe Turbay acontece às vésperas de um processo eleitoral decisivo para o futuro político da Colômbia. Uribe Turbay é um dos principais pré-candidatos à presidência, representando a direita e uma agenda conservadora.

A tentativa de assassinato não apenas preocupa pela violência direta, mas também gera insegurança entre candidatos e eleitores, levantando questionamentos sobre as condições para um pleito justo e pacífico.

A procuradora-geral Luz Adriana Camargo Garzón ressaltou:

“Este atentado representa uma ameaça às formas democráticas de participação política. Precisamos garantir plena segurança para as campanhas e candidatos.”


Considerações finais

O atentado contra Miguel Uribe Turbay é um episódio grave que expõe vulnerabilidades na segurança política colombiana e levanta preocupações sobre o aumento da violência e radicalização. Enquanto as autoridades se mobilizam para esclarecer o caso e punir responsáveis, o país enfrenta o desafio de preservar sua democracia em meio a divisões profundas.

Peritos forenses trabalham na cena do crime onde o senador Miguel Uribe Turbay foi baleado - Foto: AFP
Peritos forenses trabalham na cena do crime onde o senador Miguel Uribe Turbay foi baleado – Foto: AFP

O futuro do senador e pré-candidato permanece incerto, e o episódio servirá certamente como um ponto de inflexão para os debates políticos e sociais da Colômbia neste ano eleitoral.

A comunidade internacional observa com atenção o desenrolar das investigações e a resposta do Estado colombiano, que precisa mostrar firmeza para garantir que episódios como este não se repitam e que a violência política seja definitivamente contida.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *