Documentário explora ‘criaturas da mente’ que habitam nossos sonhos

Durante a pandemia, o cineasta Marcelo Gomes se deu conta de que havia parado de sonhar — ou, pelo menos, de lembrar de seus sonhos. Para quem sempre encontrou inspiração onírica em seus roteiros, esse vazio foi angustiante.

“Fui inspirado por sonhos a escrever cenas inteiras de meus filmes. Sonhei com vários dos meus personagens. Quando estou filmando, todo dia sonho com alguma coisa e, muitas vezes, aquilo vai parar no meu trabalho de alguma forma”, explica o diretor. “É fundamental, para mim e para todo mundo, estar em contato com os sonhos, dando importância a eles e compartilhando esse conteúdo com as pessoas em volta.”

Imagem: Reprodução / Internet

Essa inquietação levou Gomes ao trabalho do neurocientista Sidarta Ribeiro, especialista em sono e autor dos livros O Oráculo da Noite e Sonho Manifesto. A conexão entre ciência e espiritualidade, memória e inconsciente, virou o fio condutor do documentário Criaturas da Mente, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas.

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A produção costura saberes acadêmicos e tradições ancestrais, como as dos povos indígenas e das religiões de matriz africana. Sidarta, a ialorixá Mãe Beth de Oxum e o pensador Ailton Krenak participam do filme com reflexões sobre o papel dos sonhos na vida cotidiana.

“Criaturas da mente são as representações mentais da memória de pessoas e de personagens fictícios que conhecemos e que habitam o nosso inconsciente com todas as combinações possíveis. Quem tem vida onírica rica se encontra com essas criaturas todas as noites“, explica Sidarta Ribeiro. “Os sonhos são bons em juntar pistas subliminares e produzir uma imagem que pode ser uma mensagem importante para você e sua comunidade. Quem perde contato com isso navega sem bússola.”

Imagem: Luiza Mugnol Ugarte | Revista Humanos

Para Mãe Beth, os sonhos são um canal de comunicação espiritual essencial:

“A sociedade urbana deu as costas para o sonho, mas, se não tiver sonho, como ter o recado? O jogo de búzios dá o recado, mas tem recado que tem que vir pelo sonho. O caminho é abrir o portal da espiritualidade pra escutar o que Oxum, a mãe do sonho, tem a dizer. Entender que tem gente dentro da gente.”

Krenak também aponta que a experiência do sonho precisa ser vivida, não apenas compreendida:

“Acho interessante que a ciência está fuçando esse ambiente com certa curiosidade e percebendo que alguém que está com o estado alterado da mente pode experimentar uma realidade que não é menos verdadeira do que, digamos, a realidade convencional.”

A ayahuasca, usada há milênios por povos amazônicos, aparece como um dos elementos capazes de ativar o mesmo estado cerebral dos sonhos. Segundo Sidarta, a ciência começa a reconhecer seu potencial terapêutico.

“Por muito tempo, a neurociência olhou para a relação de diversas culturas com o sonho achando uma besteira, algo primitivo. É uma arrogância colonial que precisa acabar.” afirma o cientista.

Onde assistir?

O documentário Criaturas da Mente chega aos cinemas com exclusividade nesta quinta-feira, 8 de maio. As primeiras exibições acontecem em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Palmas, Manaus, Recife e Salvador. Já no dia 15, o filme estreia também em Fortaleza e volta a ser exibido em Manaus. A distribuição é da Bretz Filmes e a classificação indicativa é de 12 anos.

Para quem não conseguir conferir nas telonas, Criaturas da Mente também está disponível nas plataformas Globoplay e MUBI, ampliando o acesso ao mergulho sensível e provocador que o filme propõe sobre o universo dos sonhos.

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