França abre investigação após morte em live de 12 dias

O Ministério Público de Paris abriu uma investigação formal contra a plataforma australiana de streaming Kick, após a morte do influenciador francês Raphaël Graven, de 46 anos, durante uma transmissão ao vivo em 18 de agosto de 2025. O caso levanta questionamentos sobre a atuação da empresa na moderação de conteúdos potencialmente perigosos e o cumprimento da legislação europeia de serviços digitais.

A transmissão, marcada por humilhações e agressões, durou mais de 12 dias e foi acompanhada por milhares de espectadores. Agora, autoridades francesas avaliam se a Kick violou o Regulamento Europeu de Serviços Digitais (DSA), em vigor desde 2023.

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Morte ao vivo e maratona de transmissões

Raphaël Graven, de 46 anos, morreu em Contes, no sul da França, após uma sequência de lives intensas e sem pausas, transmitidas pela plataforma Kick.

Durante as transmissões, ele era frequentemente submetido a agressões físicas e humilhações por outros participantes, em troca de doações e engajamento.

O canal “Jeanpormanove” acumulava cerca de 200 mil seguidores e gerava milhares de euros mensais com assinaturas e contribuições dos espectadores.

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jeanpormanove na Twitch - Foto: Twitch
jeanpormanove na Twitch – Foto: Twitch

Investigação e possível violação da lei europeia

A promotora Laure Beccuau afirmou que a Kick pode ter violado o DSA ao permitir a disseminação de conteúdo que atentava contra a integridade física de Graven.

A investigação busca apurar se houve negligência da plataforma na moderação dos vídeos e se ela contribuiu para o agravamento da situação.

Caso confirmada a infração, os responsáveis podem enfrentar até 10 anos de prisão e multa de € 1 milhão, segundo o Código Penal francês.

Autópsia e reação das autoridades

A autópsia realizada em 21 de agosto descartou intervenção de terceiros, indicando causas médicas ou toxicológicas como prováveis, segundo o promotor Damien Martinelli.

Mesmo assim, autoridades classificaram os vídeos como “degradantes” e o episódio como um “horror absoluto”, exigindo respostas da empresa.

A ministra Clara Chappaz declarou que a Kick “não fez o possível para impedir a distribuição de conteúdo perigoso” e convocou órgãos reguladores.

Medidas do governo 

Entre os convocados estão os Ministérios da Justiça, do Interior e da Economia, além da Arcom e da CNIL, responsáveis pela regulação digital na França.

Chappaz propôs reativar o Observatório do Ódio Online e criar uma missão de inspeção para avaliar falhas na atuação de plataformas estrangeiras.

Martin Ajdari, presidente da Arcom, defendeu nova fase na regulamentação digital e criticou a ausência de medidas preventivas por parte da Kick.

O jurista Olivier Iteanu afirmou que o caso pode se tornar um marco jurídico na responsabilização de empresas digitais que operam na União Europeia.

Resposta da Kick e impacto no setor

A Kick declarou estar “profundamente triste com a perda de Jean Pormanove” e que está cooperando com as autoridades francesas na investigação.

A empresa baniu os co-streamers envolvidos e iniciou uma revisão interna, prometendo reforçar suas diretrizes de comunidade e segurança.

Especialistas apontam que o modelo de monetização da Kick, baseado em engajamento extremo, pode incentivar comportamentos perigosos e transmissões de risco.

A morte de Graven gerou comoção entre seguidores e influenciadores, que cobram mudanças urgentes nas políticas de moderação da plataforma.

Organizações civis francesas pedem maior transparência das empresas de tecnologia e aplicação rigorosa da legislação europeia.

A Comissão Europeia acompanha o caso e pode abrir procedimento contra a Kick, caso sejam identificadas violações ao DSA.

A investigação segue em curso e pode influenciar futuras regulações sobre plataformas digitais em toda a União Europeia.

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