A vontade de querer voltar ao passado e viver momentos que trazem uma sensação de conforto e entusiasmo muitas vezes está ligada ao consumo de mídias. A música é um dos principais produtos que despertam a saudade de um tempo remoto, além do desejo de querer estar presente no exato momento em que ela foi lançada. Muitos sujeitos compartilham desse mesmo sentimento, criando uma comunidade que interage entre si, diante dos mesmos interesses, como composições, bandas e cantores.
O dicionário de português define a nostalgia como saudade de uma circunstância já passada. Assim, é compreensível que, para gerar o sentimento nostálgico, a experiência já vivida deve ser de um tempo minimamente distante.
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Um exemplo de como a nostalgia mobiliza a comunidade de fãs, foi o lançamento do novo álbum da diva pop Lady Gaga, “Mayhem”. Com uma estética e sonoridade semelhantes aos seus discos The Fame Monster e Born This Way, lançados respectivamente em 2009 e 2011, os little monsters, como são chamados seus admiradores, puderam reviver o sentimento de empolgação que sentiram nos anos 2000 ao ouvirem esses álbuns pela primeira vez. Como declara um usuário da rede social X:
“Mayhem (Lady Gaga) é um álbum estrondoso e eufórico, com refrãos antológicos e surpresas imprevisíveis. A produção inspirada nos anos 80 remete a Born This Way, tornando-se um verdadeiro momento de ciclo completo para Gaga.“
Com 14 faixas no total, o novo álbum da Mother Monster remete ao início da carreira da cantora com um dark pop já explorado por ela. No entanto, Mayhem também consegue inovar, trazendo músicas mais melódicas como “Blade of Grass”, e outras mais divertidas, como “Zombieboy”. A combinação do novo com o clássico tornou este lançamento perfeito para os fãs, que conseguiram resgatar aquela euforia de ouvir e ver um clipe da diva pela primeira vez, quando ainda existia o canal MTV.
De acordo com o jornalista Simon Reynolds, no livro Retromania, na cultura popular, a nostalgia está profundamente entrelaçada com a relação entre consumidor e entretenimento. Dessa forma, os indivíduos sentem angústia pelos produtos do passado, especialmente aqueles que remetem à juventude.

Muitos little monsters acompanham a cantora desde o início de sua carreira, com Just Dance e Poker Face — sendo esta última uma das mais esperadas do seu show em Copacabana. No X, é possível encontrar vários relatos de fãs sobre o sentimento nostálgico que o “Gagacabana” está causando:
“Minha música favorita da Lady Gaga sempre será Alejandro, eu era uma adolescente que baixava músicas no 4shared para colocar no MP3 para ir à escola à noite. Jamais me esquecerei”
“Acho que não tem como negar o impacto da Gaga na geração que estava virando adolescente ali em 2010 e era CLARAMENTE gay. Eu lembro que aqui na rua tinha o Vinícius, criança viada toda, em algum momento todo mundo só chamava ele de Lady Gaga, e ele amava”
Produzido por Michael Polansky, noivo da cantora, Mayhem veio para provar que é possível utilizar a nostalgia sem ficar preso ao passado. O disco “bebe da fonte” de antigos projetos da artista, mas também se destaca ao trazer algo novo para os seus admiradores. Produtos nostálgicos não se confundem com a vivência nostálgica das pessoas, mas são marcadas por conexões entre memória, passado, presente e futuro, conforme Talita Magnolo e Daiana Sigiliano, no artigo “Nostalgia e cultura de fãs: o resgate das capas da TV Guide no Twitter”. Assim, a nostalgia vinculada à experiência dos fãs é uma ação que organiza as lembranças, expectativas e projeções.
O show de Lady Gaga em Copacabana vai acontecer neste sábado (3) e a expectativa é de que receba um público de 1,6 milhão de pessoas, entre moradores e visitantes do Rio de Janeiro.