Do mangá para a tela grande: por que os animes estão moldando o cinema mundial?

Com bilheterias que ultrapassam 1 bilhão de ienes só no Ocidente, a indústria de anime japonesa consolidou seu impacto global em 2024. O crescimento se deve ao aumento da demanda internacional por conteúdos orientais, impulsionado por histórias envolventes e universos que fogem da narrativa tradicional ocidental — o que, naturalmente, chama atenção do público brasileiro.

Para fãs de longa data, o impacto é emocional. Gusthavo Landim (eugusthavoll), influenciador de 21 anos especializado em conteúdo otaku, destaca o privilégio de assistir aos seus animes favoritos em qualidade de cinema: “Até mesmo para quem ainda não conhece, pode ser a porta de entrada para esse universo de produções de altíssima qualidade que merecem cada vez mais e mais reconhecimento.”

A influenciadora Jeniffer Fernandes, a @meninapirata_, concorda: “Isso mostra o potencial de crescimento desse mercado por aqui. Exibir animes no cinema amplia as opções para os fãs e oferece uma nova forma de viver histórias que já acompanham — agora, em uma tela muito maior.”

Jeniffer lembra ainda que o Brasil é o segundo maior consumidor de entretenimento do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Essa realidade é confirmada pela Crunchyroll, plataforma líder em streaming de animes, que revelou durante a CCXP 2024 que o Brasil ocupa o 2º lugar global em número de assinantes.

Estamos vendo mais crescimento no mercado e alimentando esse crescimento com mais dublagens em português brasileiro, construindo comunidade em nossa rede social, no Crunchyroll News, e buscando fãs em eventos como a CCXP. O Brasil também esteve entre os três países com mais engajamento no Crunchyroll Anime Awards 2024.”

— Gita Rebbapragada, diretora de operações da Crunchyroll

Em 2023, Suzume tornou-se o quarto filme de anime de maior bilheteria de todos os tempos, arrecadando 322 milhões de dólares. Em 2024, O Menino e a Garça (Kimitachi wa Dō Ikiru ka) conquistou o Oscar de Melhor Animação e arrecadou mais de 7 milhões de reais só no Brasil.

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Animes de esporte como Blue Lock (futebol) e Haikyu!! (vôlei) também chegaram aos cinemas brasileiros, confirmando que o formato cinematográfico caiu no gosto do público. Grandes nomes como Demon Slayer, Chainsaw Man, Attack on Titan e Jujutsu Kaisen têm estreias previstas ainda este ano.

Investimento com sucesso: o crescimento do mercado de anime no mundo

O mercado global de anime e seus produtos mais que dobrou entre 2012 e 2022, atingindo 2,9 trilhões de ienes (cerca de 20 bilhões de dólares), segundo a Associação de Animações Japonesas (AJA).

Em 2020 e 2023, o faturamento internacional superou o doméstico. Só em 2023, a receita vinda do exterior foi 650 milhões de dólares maior. Para a AJA, “esse fenômeno é só o começo — e tudo indica que o futuro da animação global falará cada vez mais em japonês.”

O que os otakus querem — e como os animes estão oferecendo isso

Apesar de fazerem parte do mesmo universo animado, os animes que dominam os cinemas não podem ser comparados diretamente com produções ocidentais como Divertidamente 3. Enquanto essas histórias priorizam narrativas universais e fórmulas familiares, os animes mergulham em tramas mais densas e provocativas, que desafiam o senso comum.

No fim das contas, ver o anime ocupando espaços como o cinema é um reflexo de tudo que a gente construiu como comunidade. Não é só sobre assistir a um filme — é sobre celebrar histórias que nos marcaram junto de pessoas que amamos e gostamos de compartilhar momentos!”, afirma Gusthavo.

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Essa nova onda representa uma mudança cultural: menos produto, mais expressão. Os fãs estão empolgados com as possibilidades — e os números só comprovam que o impacto dos animes nas telonas é duradouro.

Mesmo sem ter visto (ainda) os animes dos longas recentes, estou animada para acompanhar todo o movimento. Mal posso esperar para ver o Luffy, de One Piece, gritar que quer ser o Rei dos Piratas — em alto e bom som, no cinema”, diz Jeniffer (@meninapirata_).

É sobre ver um traço japonês atravessar oceanos e ganhar escala IMAX, sobre histórias que começaram no mangá, em papel preto e branco, desenhadas à mão, agora iluminando salas de cinema em todo o mundo. Neste novo arco, deixou de ser “só desenho japonês” e passou a ser arte reconhecida globalmente — com fãs, impacto e legado digno de tela grande.

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