Em 2024, dez dos filmes com maior bilheteria mundial foram continuações de histórias já conhecidas pelo público, como é o caso de Divertida Mente 2, Deadpool & Wolverine, Moana 2, Meu Malvado Favorito 4, entre outros. A presença constante de remakes, reboots, continuações e spin-offs reforça a estratégia da indústria cinematográfica de revisitar universos familiares como forma de atrair a audiência e garantir um bom desempenho comercial.
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A nostalgia é uma aposta segura para as produções audiovisuais, que investem em franquias queridas pela audiência. Quando o público se conecta com os personagens ou com o universo, a abordagem se torna de menor risco e maior retorno, uma vez que o efeito nostálgico motiva as pessoas a revisitar essas obras.
Maiores bilheterias de 2024
- Divertida Mente 2 – $1,698,863,816 (Continuação)
- Deadpool & Wolverine – $1,338,073,645 (Continuação)
- Moana 2 – $1,059,242,164 (Continuação)
- Meu Malvado Favorito 4 – $969,547,158 (Continuação)
- Wicked – $753,906,469
- Mufasa: O Rei Leão – $722,460,982 (Continuação)
- Duna 2 – $714,644,358 (Continuação)
- Godzilla x Kong: O Novo Império – $571,850,016 (Continuação)
- Kung Fu Panda 4 – $547,689,492 (Continuação)
- Sonic 3: O Filme – $492,162,604 (Continuação)
Impacto nas bilheterias
Filmes que contém um forte vínculo emocional com os espectadores têm se destacado como os principais atrativos para levar o público de volta aos cinemas. Após a pandemia da Covid-19, houve uma queda considerável na frequência de pessoas às salas de exibição. Uma pesquisa realizada pelo site S&P Global mostra que, nos Estados Unidos, apenas 57% dos adultos com acesso à internet foram ao cinema em 2023, em comparação com 68% em 2019.
No Brasil, também é possível observar um padrão semelhante ao revelado pela pesquisa, com a retomada gradual do público aos cinemas após a pandemia. Em 2019, quatro filmes alcançaram a marca de mais de um milhão de espectadores. Esse número só foi atingido novamente em janeiro de 2024, com o longa Minha Irmã e Eu, que conta a história das irmãs Mirian (Ingrid Guimarães) e Mirelly (Tatá Werneck). As duas seguiram caminhos opostos ao longo da vida, mas, quando a mãe delas desaparece, elas deixam as diferenças de lado e se unem para procurá-la. Em 2024, outros três filmes nacionais também ultrapassaram essa marca: Os Farofeiros 2, Nosso Lar 2 – Os Mensageiros e Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional.
Outro fator que influencia esse cenário é a rapidez com que os longas-metragens chegam às plataformas de streaming. Um exemplo é Encanto, lançado em 24 de novembro de 2021 e disponibilizado no catálogo do Disney+ já em 24 de dezembro do mesmo ano, apenas um mês após sua estreia. O que leva parte da audiência a preferir assistir aos filmes em casa, em vez de apreciá-los nas telonas.
Atraindo novos públicos e criando tendências
Remakes, reboots, spin-offs e continuações ajudam a rejuvenescer marcas e a criar tendências voltadas às novas gerações, ao mesmo tempo em que se comunicam com o público original. Um bom exemplo é Stranger Things, que resgata a estética dos anos 1980, estabelecendo uma conexão emocional com quem viveu aquela época, enquanto apresenta esse universo a um novo público.
Esse tipo de produção desperta o interesse de jovens por elementos culturais do passado, como acontece com os looks inspirados nos anos 1980 ou com o ressurgimento de músicas antigas. Como é o caso de Running Up That Hill, de Kate Bush, lançado em 1985 e que, após aparecer na série em junho de 2022, chegou ao top 1 no Spotify global, quase quatro décadas depois da sua realização. Ao conquistar tanto quem já conhece a história quanto quem está tendo o primeiro contato com ela, essas produções alcançam telespectadores de diferentes idades, o que é muito vantajoso comercialmente, já que permite que as marcas atinjam mais pessoas e se mantenham relevantes no mercado.
Desgaste do público
A repetição, ao mesmo tempo que atrai parte do público, também afasta espectadores que reclamam da falta de originalidade e que estão cansados de ver as mesmas histórias sendo recontadas. Os live-actions dos contos da Disney são um exemplo significativo desse descontentamento. Muitos afirmam estar exaustos com tantas repetições e expressam o desejo por histórias novas, além de criticarem os executivos, que em sua maioria parecem priorizar o lucro em vez da qualidade.
“A Disney perdeu a chance de fazer um casal romântico lindo pra fazer aquilo, só pra vender brinquedo”, comentou uma usuária do X (antigo Twitter) em uma publicação que mostrava uma cena deletada do filme Wish: O Poder dos Desejos (2023), na qual a protagonista Asha aparecia com seu par romântico, que acabou sendo descartado do longa.
Um evento recente que ilustra esse cenário é o filme Branca de Neve (2025), que recebeu diversas críticas tanto pelas alterações na história original quanto pelos efeitos de computação gráfica.
“A Disney, com a oportunidade de promover inclusão e fazer Branca de Neve com sete atores com nanismo, atuando, mostrando seu trabalho e brilhando, vai lá e cria bonecos pavorosos de CGI (Imagens Geradas por Computador) porco. Isso está HORRÍVEL!”, afirmou outra usuária do X.
Essas escolhas se refletiram na bilheteria e na recepção da crítica. O filme teve um custo de produção superior a US$ 250 milhões e, até o momento, arrecadou cerca de US$ 200 milhões. No site IMDb, acumula aproximadamente 349 mil avaliações e uma nota baixa de 1,6 estrelas de 10 no total. É importante destacar, no entanto, que o filme também esteve envolvido em diversas polêmicas, o que pode ter influenciado na rejeição por parte da crítica e do público.

Futuro do cinema
A era da nostalgia no cinema segue em alta e não dá sinais de que irá desaparecer. Filmes desse tipo continuam sendo produzidos por grandes estúdios, como é o caso de lançamentos que estão por vir, como o remake de Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado, a sequência de Shrek e o retorno da franquia Premonição, todos voltando após mais de uma década desde sua última estreia. Esses lançamentos indicam que a aposta em histórias já conhecidas permanece como uma tendência dominante na indústria. Resta observar se o público continuará aceitando esse modelo ou se passaram a buscar propostas mais originais nos próximos anos.