A história do Corinthians não acabou no sábado. Pelo contrário, o filme parece só estar começando. E diferente do que muitos esperavam, esse roteiro não tem herói redentor, mas sim uma guerra de bastidores, acusações de golpe e cenas que beiram o absurdo jurídico.
Depois da tentativa de retorno de Augusto Melo à presidência do clube, relata com detalhes na matéria abaixo, o Parque São Jorge virou palco de uma batalha aberta entre conselheiros, dirigentes e membros da diretoria. Se neste sábado (31) já começou estranho com a entrada de Melo no clube, terminou ainda mais caótico com oposição comandada por Stabile reagindo com revolta.
“Hoje é o dia mais triste dos 115 anos de história do Corinthians”, definiu o ex-diretor jurídico Dr. Pantaleão, visivelmente indignado. “Invadiu a sala da presidência como gângster. Está rindo da cara de 176 conselheiros que votaram legalmente pelo seu afastamento. Essa gente não tem nenhuma preocupação com a imagem do clube. Falta decência, hombridade e vergonha.”
Pantaleão ainda anunciou que também prestaria queixa contra Melo, mesmo caminho seguido pelo presidente interino de Osmar Stabile. A palavra “golpe” virou quase um bordão entre os opositores do ex-presidente.
“Ato vil”: Stabile sobe o tom
O presidente do clube, Osmar Stabile, publicou uma nota oficial poucas horas depois dos acontecimentos. No comunicado, classificou o movimento liderado por Augusto como “ato vil” e reafirmou que não houve qualquer mudança no comando.
“Pedirei punição severa aos responsáveis pelo ato vil que manchou a história do Corinthians na tarde de hoje. Não compactuamos com atitudes que violem os direitos fundamentais do clube. O Corinthians tem uma história marcada pela luta por justiça, igualdade e respeito à democracia”, disse Stabile.
Stabile reforçou que qualquer alteração no Conselho de Ética precisa de aprovação em plenário, o que não aconteceu.
Do lado da presidência, o vice Armando Mendonça foi direto:
“O Augusto tentou um golpe contra a instituição. O Conselho votou pelo afastamento dele, seguindo o estatuto. Nada mudou, absolutamente nada”.
Jurídico rebate interpretação de Melo
A base jurídica usada por Augusto Melo para tentar reassumir o cargo foi duramente rebatida pelo advogado Felipe Ezabella, conselheiro e ex-candidato à presidência do clube. Para ele, a decisão da conselheira Maria Ângela que anulou atos de Romeu Tuma Jr. e se autodeclarou presidente do Conselho não tem efeito retroativo nem base estatutária.
“Essa decisão não pode produzir efeitos retroativos. Isso é ilegal. É uma interpretação teratológica do Estatuto. Eles mesmos participaram da reunião do impeachment e agora tentam invalidar aquilo?”, criticou Ezabella.
Ele citou o princípio jurídico do venire contra factum proprium para apontar contradição nos próprios atos da Comissão de Ética: “Querem se voltar contra aquilo que eles mesmos fizeram”.
“Cárcere privado” e denúncias
Outro que reagiu com firmeza foi Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians. Tuma prometeu ir à delegacia para denunciar o que chamou de cárcere privado contra Osmar Stabile no momento da invasão da presidência.
“Não há validade jurídica nenhuma no que fizeram. Isso marca tristemente a história do Corinthians. Sempre lutamos pela democracia. Hoje, ela foi agredida”, declarou.
Um Corinthians, dois mundos
Enquanto Augusto Melo insiste em sua versão e seus apoiadores falam em “restabelecer a ordem”, a atual direção e boa parte do Conselho, comandada por Stabile, enxergam a tentativa como um ataque frontal à democracia interna. Um golpe mal disfarçado, com apoio jurídico frágil e motivado por puro desespero político.
O que parece certo é que o sábado de caos ainda vai render capítulos. Porque se a crise parecia estar se encaminhando para um fim, a verdade é que o Corinthians está mais dividido do que nunca — e ninguém sabe quem realmente manda no clube hoje.