Completando 47 anos de vida, neste sábado (6), Emerson Sheik com certeza é um dos grandes personagens do futebol no século XXI (21), especialmente na última década, vestindo a camisa do Corinthians. Além de ter sido um grande jogador, Sheik não economizava nas provocações com adversários, independente de qual era o time, mas continua nas graças da torcida Fiel Torcida, principalmente quando provoca o maior rival, o Palmeiras.
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Emerson, ou melhor, Márcio Passos de Albuquerque, seu verdadeiro nome, é natural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. O jogador passou a ser chamado de Emerson após adulterar a certidão de nascimento, prática conhecida no futebol como “gato”, para reduzir a idade e ter melhores oportunidades nas categorias de base. Emerson estava no São Paulo na época, quando dirigentes apressaram sua saída com medo de sofrer punições por conta da adulteração da certidão do jogador.
O apelido Sheik veio anos mais tarde, dado pela torcida do Flamengo, após passagem pelo futebol árabe, e o abraçou ao longo de sua carreira. Inclusive, Emerson registrou um de seus filhos como Emerson Júnior, fazendo alusão ao nome de certidão na época em que buscava seu espaço no futebol.
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Início da Carreira
Levado ao clube pelo ex-lateral Cláudio Guadagno, Emerson foi aprovado em avaliação feita por Milton Cruz e rapidamente ganhou espaço no São Paulo. Estreou no time profissional em 26 de setembro de 1998, aos 20 anos, entrando no lugar de Dodô no empate sem gols contra o Flamengo, pelo Brasileirão, no Morumbi.
No ano seguinte, sob o comando de Paulo César Carpegiani, foi definitivamente promovido ao elenco principal, mas deslocado para a lateral direita, onde não conseguiu se adaptar. Como atacante, chegou a marcar dois gols, um na vitória por 5 a 1 sobre o Atlético-MG e outro na derrota por 3 a 2 para o Santos, ambos em julho de 1999.
A passagem, porém, foi interrompida após o polêmico Caso Sandro Hiroshi, que resultou na perda de pontos do clube por uso de documentos falsificados do atacante. Temendo nova punição, já que havia suspeitas também sobre Emerson, a diretoria decidiu negociá-lo com o Consadole Sapporo, do Japão, mesmo sem provas concretas de adulteração.
Assim em 2000, Emerson partiu para o futebol japonês deixando o São Paulo com 19 jogos e dois gols marcados.
De desconhecido para ídolo
Emerson desembarcou no Japão como desconhecido, mas rapidamente se tornou um dos grandes destaques do futebol local. Foram cinco anos no país, com passagens por Consadole Sapporo, Kawasaki Frontale e Urawa Red Diamonds.
No Consadole, então na segunda divisão, teve início meteórico, marcando 33 gols em 30 jogos na temporada 2000, sendo campeão, artilheiro e eleito melhor jogador da competição, chamando atenção de todo futebol do país. Em 2001, no Kawasaki Frontale, manteve o faro de gol, balançando as redes 19 vezes em 18 partidas.
A consagração veio no Urawa Red Diamonds, um dos principais times da elite japonesa, onde atuou entre 2002 e 2005 e virou ídolo da torcida. Emerson chegou a relatar que precisava usar peruca para sair de casa sem ser reconhecido. Pelo clube, foi artilheiro do Campeonato Japonês de 2004, eleito três vezes o melhor segundo-atacante do torneio (2002, 2003 e 2004) e ainda ganhou o prêmio de Futebolista do Ano em 2003.
Sua bem-sucedida trajetória no Japão terminou em 2005, quando o sheik Jassim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, filho do então rei do Catar, assistiu a uma partida sua pela TV e decidiu comprar seus direitos econômicos e o levou para defender o Al-Sadd.
No clube do Oriente Médio, Emerson mudou o patamar da sua vida financeira. O atacante revelou que além de um contrato milionário, ele ainda ganhava carros esportivos e relógios Rolex a cada boa partida.
A frustrante passagem pela Europa
Emprestado ao Rennes, da França, em 2007, em negociação avaliada entre 4 e 5 milhões de euros. O acordo com o proprietário do Al-Sadd previa que o atacante poderia retornar ao Catar quando quisesse. A expectativa em torno de sua chegada era alta, mesmo vindo do futebol asiático, seus números expressivos no Japão e no Catar chamaram atenção, e até clubes como Lyon, Lille e Saint-Étienne foram apontados como interessados.
A estreia aconteceu em outubro daquele ano, contra o Lokomotiv Sofia, da Búlgaria, pela antiga Copa da UEFA, porém foram apenas 12 minutos em campo na vitória por 3 a 1. No Campeonato Francês, jogou pela primeira vez diante do Paris Saint-Germain, no Parque dos Príncipes, entrando nos minutos finais. O desempenho, no entanto, foi bem discreto.
Ao todo, Emerson fez cinco partidas pelo Rennes, somando pouco mais de 100 minutos em campo e sem marcar gols. Sem conseguir se firmar na Europa, acabou retornando ao Oriente Médio. Curiosamente, apesar do baixo impacto esportivo, sua negociação foi lucrativa para os franceses, o Al-Sadd desembolsou 7 milhões de euros para trazê-lo de volta.
Retorno ao Brasil
Sem os holofotes do futebol japonês e árabe, Emerson chegou ao Flamengo no início de 2009 pagando do próprio bolso a multa de rescisão com o Al-Sadd, o Flamengo recebeu seu novo atacante com muita expectativa e logo caiu nas graças da nação rubro-negra que o apelidou carinhosamente de Sheik, que adota como “sobrenome” até os dias de hoje.
A estreia pelo Flamengo, aconteceu contra o Fluminense, já na reta final da Taça Rio, Emerson marcou seu primeiro gol. Recuperando sua melhor forma física e destacando-se nos treinos, Emerson acabou conquistando a vaga de titular nas finais do Carioca de 2009.
Mas nem tudo foram flores para Emerson Sheik no clube do coração. Por volta da 18ª rodada do Campeonato Brasileiro, o atacante recebeu uma proposta irrecusável do Al Ain dos Emirados Árabes, e já tendia a sair do Flamengo, que também não via com maus olhos a sua negociação em virtude da multa empreendida. Apesar disso, a diretoria ainda colocou o jogador como um dos campeões brasileiros daquele ano.
Apesar da batalha entre Sheik e Flamengo, o atacante conseguiu sair para o futebol árabe, mas voltou no meio da temporada seguinte para defender o rival, Fluminense. Onde o atacante fez boa temporada e até marcou um gol que viria dar o título do Campeonato Brasileiro para o tricolor das laranjeiras.
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O casamento perfeito
Emerson acertou sua ida para o Corinthians em 18 de maio de 2011 e foi apresentado oficialmente dias depois. Ainda naquele ano, escreveu seu nome na história ao conquistar o Campeonato Brasileiro, alcançando um feito inédito, sendo tricampeão nacional em três anos consecutivos por três clubes diferentes.
A temporada de 2012 marcaria definitivamente sua trajetória no Timão. Em grande forma técnica e física, Emerson brilhou logo na semifinal da Libertadores, contra o Santos. Na Vila Belmiro, marcou um golaço ao bater cruzado no ângulo da entrada da área, garantindo a vitória por 1 a 0. Apesar da expulsão no mesmo jogo, foi considerado o destaque da partida.
Na final contra o Boca Juniors, teve atuações decisivas. No duelo de ida, na La Bombonera, deu o passe para Romarinho empatar no fim e manter o Corinthians vivo. Já no Pacaembu, no jogo de volta, fez história, marcando os dois gols da vitória por 2 a 0 que deu ao clube seu primeiro título da Libertadores e colocava para sempre seu nome na história do clube paulista.
Ainda no mesmo ano, em dezembro, Emerson corou a temporada perfeita e o ano inesquecível para a fiel torcida. Em 16 de dezembro de 2012, vence a Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2012, sendo o bicampeonato do Corinthians, além de seu maior título como jogador profissional. Foi um ano com atribulações extra campo para o jogador, após aparecer em uma foto dando selinho em outro homem, o que gerou mais uma grande polêmica na vida de Emerson Sheik.
Final de carreira no Corinthians
Após passagens por mais alguns clubes, Emerson Sheik retornou ao Corinthians para encerrar sua carreira. Assinando um contrato de seis meses, Sheik foi peça marcante na campanha que levou o Timão ao título do Campeonato Paulista de 2018, conquistado em cima do maior rival, o Palmeiras e ainda diante da torcida alviverde. O desempenho fez com que o vínculo fosse renovado até o fim do ano, quando já havia decidido que seria sua última temporada como jogador profissional.
O atacante marcou o último gol da carreira em 14 de março de 2018, na Neo Química Arena, ao abrir o placar na vitória por 2 a 0 sobre o Deportivo Lara, pela fase de grupos da Libertadores. Ao final da temporada, Emerson se aposentou oficialmente, colocando ponto final em uma trajetória de títulos, gols decisivos e idolatria no futebol brasileiro.

A vida de Emerson ultrapassava as questões campo e bola. O polêmico jogador estampava os noticiários de fofoca toda semana e com uma notícia mais surpreendente do que a outra. Veja algumas polêmicas de Sheik:
Adulteração de Passaporte
Em 2006, o atacante foi detido pela Polícia Federal no Aeroporto do Galeão com passaporte falso ao tentar embarcar para o Catar. Com uma identidade adulterada, ele tirou passaporte e título de eleitor. Conseguiu a liberação ao pagar uma multa de R$ 70 mil e prestar serviços comunitários por um ano e meio.
Compra de um Macaco
Em 2011, Sheik foi investigado pelo Ibama após comprar uma macaca-prego apelidada de Cuta e tratada como filha por ele. O jogador comprovou que a compra foi legalizada.
Contrabando
Um carro importado deu dor de cabeça para o jogador. Sheik foi acusado de lavagem de dinheiro e contrabando por conta da situação irregular do veículo. A Justiça o inocentou no caso, mas o Ministério Público recorreu da decisão.
Essas foram algumas das polêmicas na vida agitada de Emerson Sheik, que ainda teve chegada ao Helicóptero no meio do treino do Corinthians em 2011. As inúmeras provocações ao Palmeiras. Além da música cantada no ônibus do Fluminense que exaltava o rival Flamengo e que fez o atacante rescindir com o clube das Laranjeiras.
Uma coisa é certa, aos 47 anos, Emerson Sheik ou Márcio Passos, sabe aproveitar a vida e principalmente a torcida do Corinthians é quem mais festeja seu aniversário.