Investigação da Polícia Civil diz que R$ 1 milhão vindo do Corinthians foram parar em conta de braço do PCC

Nesta terça-feira (14), a Polícia Civil concluiu a investigação sobre o escândalo envolvendo o patrocínio da casa de apostas Vai de Bet. Segundo o relatório final, mais de R$ 1 milhão foram desviados do Corinthians para a empresa UJ Football Talent, apontada em delação premiada como ligada ao grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC).

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De acordo com as autoridades, o Corinthians foi vítima de um esquema fraudulento que resultou em prejuízo direto aos cofres do clube. A Polícia Civil detalhou, em seu relatório, os repasses financeiros suspeitos e a conexão da empresa com o esquema criminoso.

Confira um trecho do documento oficial:

“Parece-nos nítido, destarte, que aqueles que deram causa ao desvio de dinheiro dos cofres do Sport Club Corinthians Paulista se utilizaram das tradicionais estratégias de lavagem de dinheiro para, não só introduzir os valores no sistema financeiro e distanciar o capital ilícito da sua origem, visando, assim, evitar uma associação direta com a infração antecedente”

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator que colaborou com as investigações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), afirmou que a empresa UJ Football Talent era ligada à facção criminosa. Gritzbach foi assassinado em 2024, antes do fim das apurações.

A partir da quebra dos sigilos bancários do delator e de outros investigados, a Polícia Civil concluiu que o Corinthians foi vítima de um esquema de lavagem de dinheiro, com a transferência indevida de recursos para a UJ Football Talent. A fraude resultou no desvio de mais de R$ 1 milhão dos cofres do clube.

A reconstrução do caso

Nos dias 18 e 21 de março de 2024, o Corinthians efetuou dois depósitos no valor total de R$ 1,4 milhão para a empresa “Rede Social Media Design Ltda“, de propriedade do empresário Alex Cassundé. A empresa atuou como intermediária na negociação do contrato de patrocínio com a casa de apostas Vai de Bet.

Segundo documentos apreendidos pela Polícia Civil, esse valor foi posteriormente repassado à Neoway Soluções Inteligentes, empresa apontada como “laranja” para mascarar o verdadeiro destino dos recursos. A Neoway estava registrada em nome de Edna Oliveira dos Santos, moradora de Peruíbe (SP) com perfil econômico incompatível com os valores movimentados.

O delegado Tiago Fernando Correia afirmou no relatório da investigação que há evidências claras de que a Neoway é uma empresa fantasma. Ela estaria ligada a um esquema de ocultação de ativos, operando em conjunto com outras firmas suspeitas, como ACJ Platform, Thabs Soluções Integradas e Carvalho Distribuidora.

“Seja porque, conforme trabalhos de campo dos investigadores, jamais estivera constituída no local apontado na ficha cadastral Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) como sendo a sua sede, seja porque no suposto endereço residencial documentalmente indicado como sendo o de Edna, um condomínio de apartamentos de alto patrão, ela nunca ali residira, nem sequer figurava, consoante informado aos policiais, como visitante”

A Polícia Civil identificou que um depósito de R$1 milhão foi feito à empresa Wave Intermediações e Tecnologia Ltda, que, no mesmo dia, já havia movimentado outros R$13 milhões em sua conta. A investigação revelou que, em apenas 13 meses, a empresa registrou uma movimentação superior a R$ 280 milhões.

Após receber o valor, a Wave transferiu R$ 874.250,00 à empresa UJ Football Talent, citada em delações como sendo comandada por Danilo Lima, conhecido como “Tripa”, apontado como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ainda segundo a polícia, em 28 de março de 2024, a UJ Football recebeu mais R$200 mil, dessa vez repassados pela empresa Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Ltda., tendo como origem a Neoway Soluções Inteligentes.

Com isso, mais de R$1 milhão saíram da intermediação do patrocínio entre a Vai de Bet e o Corinthians com destino à UJ Football Talent. Do total movimentado, R$42 mil permaneceram com a Neoway — valor identificado na transferência feita pela Rede Social Media Design Ltda., empresa do empresário Alex Cassundé.

A polícia aponta que todas essas empresas formam um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, com estruturas de fachada utilizadas para ocultar os reais beneficiários dos repasses.

“Só que, em 27 de março de 2024, remeteu, via TED, R$ 40 mil para destinatário identificado no extrato apenas como TH. Detalhe, conseguimos qualificar TH, pois o CNPJ é aposto no extrato. Trata-se da Thabs Soluções Integradas (em reforço à conclusão de que possivelmente foram criadas por um mesmo grupo criminoso)”

Na conclusão do relatório:

“Em suma, que o Sport Club Corinthians Paulista foi lesado, é indubitável; e concordemos que, não se trata de coincidência, muito menos de mero acaso, o dinheiro ter saído das contas de um renomado Clube brasileiro para ser abocanhado por uma afamada Agência de Assessoria Esportiva”

Durante as investigações, Alex Cassundé disse que repassou dinheiro para a Neoway por ter sido vitima de um golpe, mas a polícia discorreu que:

“O Sport Club Corinthians Paulista nos enviara documentação na qual os dados bancários da Rede Social despontavam, curiosamente, os mesmos daqueles consignados no tal comprovante”

Durante as investigações do caso Vai de Bet, o empresário Alex Cassundé afirmou à Polícia Civil que recebeu valores por ter “apresentado a casa de apostas ao Corinthians”. Segundo ele, o acordo foi intermediado por Sérgio Moura, então superintendente de marketing do clube, que teria articulado o pagamento da comissão ao empresário. Também foram ouvidos no inquérito o presidente Augusto Melo e Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo.

Em seu depoimento, Cassundé declarou que não conhecia a Vai de Bet previamente e que só tomou conhecimento da empresa após realizar uma busca no ChatGPT, perguntando: “Como encontrar empresas de bet?”. A resposta da ferramenta teria listado a Vai de Bet, levando Cassundé a entrar em contato com Sérgio Moura. Moura teria repassado o contrato ao então diretor Marcelo Mariano.

O contrato entre o Corinthians e a Vai de Bet, avaliado em R$360 milhões, foi rescindido pela empresa após a revelação do pagamento de comissões não previstas no acordo formal. O caso envolve suspeitas de intermediações irregulares e lavagem de dinheiro, e os nomes de Augusto Melo, Marcelo Mariano e Sérgio Moura permanecem sob investigação.

Acordo com Fintech

Após a delação de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, a Polícia Federal decretou a prisão de Cyllas Elia, presidente da fintech 2Go Bank. A empresa negociava com o Corinthians uma parceria para implementar uma nova plataforma do programa Fiel Torcedor, além de gerenciar vendas de alimentos e bebidas, lançar um banco oficial do clube e desenvolver um aplicativo exclusivo para a torcida.

Em nota oficial, o Corinthians confirmou que chegou a dialogar com a 2Go Bank, mas afirmou que a empresa foi descartada ainda no início do processo seletivo conduzido para escolher os parceiros responsáveis pelas iniciativas mencionadas.

E o que vai acontecer?

Com a investigação envolvendo Augusto Melo, Marcelo Mariano e Sérgio Moura em fase final, a Polícia Civil aguarda agora o parecer do Ministério Público, que poderá oferecer denúncia formal contra os três por crimes como lavagem de dinheiro.

Além das possíveis implicações criminais, o relatório da investigação pode ser determinante no processo de impeachment do presidente Augusto Melo, cuja votação está marcada para o dia 26 de maio. A situação aumenta ainda mais a crise política nos bastidores do Corinthians.

A assessoria soltou uma nota oficial sobre o caso:

“O inquérito policial está sob segredo de justiça, portanto não teremos nenhum comentário a adicionar. O Corinthians não tem responsabilidade por qualquer direcionamento de dinheiro que não esteja na conta bancária do Clube”

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