Líderes do Campeonato Brasileiro e já classificadas para a próxima fase da competição, as Cabulosas vivem um excelente momento. O Cruzeiro é hoje um exemplo de como uma gestão esportiva eficiente pode gerar grandes resultados, especialmente no futebol feminino. Com a equipe em alta, a expectativa agora é superar as quartas de final — até então, a melhor campanha da história do time na competição.
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Nascimento do projeto e chegada na elite
O projeto do futebol feminino do Cruzeiro foi oficialmente retomado em 2019, ainda durante a gestão pré-SAF. A história da equipe, no entanto, remonta a 1983, quando o clube disputou sua primeira partida feminina, pouco após o fim do decreto de Getúlio Vargas que proibia mulheres de praticar futebol no Brasil. Houve ainda um retorno pontual em 2001, mas ambas as iniciativas ocorreram de maneira amadora.
Foi apenas em 2019, com a exigência da CONMEBOL para que clubes tivessem equipes femininas como condição para disputar competições continentais, que o Cruzeiro fundou oficialmente sua equipe profissional. Sob a liderança da diretora Bárbara Fonseca, o clube iniciou o projeto com seriedade e estrutura.
Na época, Bárbara destacou as dificuldades enfrentadas para contratar atletas e reforçou o desejo de construir uma equipe forte e competitiva desde o início:
“Resumidamente, é um trabalho mais complicado, porque neste momento a maioria das atletas já está empregada. O que posso te garantir é que estou fazendo um trabalho para montar uma equipe forte”
“O Cruzeiro administrará sua própria equipe, não há aquela parceria que outros clubes fizeram. A nossa equipe busca no mercado atletas de potencial mais apurado para formar o time. Eu estou realizando um trabalho de cigana, atuando externamente e buscando essas jogadoras”
Após a montagem do elenco, as Cabulosas disputaram o Brasileirão Feminino Série A2, segunda divisão da categoria, e realizaram uma campanha sólida: foram dez vitórias, um empate e apenas duas derrotas. Sob o comando do técnico Hoffmann Túlio, a equipe conquistou o vice-campeonato e, mais importante, garantiu o acesso à elite do futebol feminino nacional — cumprindo, assim, a promessa feita por Bárbara Fonseca de formar um time competitivo desde o início do projeto.
Crescimento estadual e consolidação na elite
Em 2020, o Cruzeiro estreou na elite do futebol feminino nacional e fez uma campanha mediana, encerrando a primeira fase na 10ª colocação. Apesar de não avançar às fases finais, a permanência na Série A1 foi considerada positiva e serviu de incentivo para a disputa do Campeonato Mineiro no mesmo ano. No entanto, as Cabulosas terminaram com o vice-campeonato estadual, sendo superadas pelo Atlético Mineiro.
Nas temporadas de 2021 e 2022, o Cruzeiro manteve-se no meio da tabela do Brasileirão e seguiu marcando presença nas finais do Campeonato Mineiro. Em 2022, já sob a gestão da SAF comandada por Ronaldo, o departamento de futebol feminino passou a ser liderado por Kin Saito. Bárbara Fonseca, que havia sido a principal responsável pela fundação da equipe profissional em 2019, permaneceu no projeto, agora atuando como auxiliar na diretoria de futebol.
Gestão Kin e novos investimentos
Sob a gestão de Kin Saito, o Cruzeiro conseguiu montar uma equipe competitiva e, em 2023, as Cabulosas alcançaram um marco importante: a classificação para a segunda fase do Campeonato Brasileiro Feminino. A equipe terminou a primeira fase na oitava colocação e, apesar da boa campanha, foi eliminada nas quartas de final pelo Corinthians. No Campeonato Mineiro, lideradas pela artilheira Byanca Brasil, as Cabulosas conquistaram o primeiro título estadual da história do clube — de forma invicta e com vitória sobre o rival Atlético-MG.
Em 2024, o time manteve o bom desempenho e novamente chegou às quartas de final do Brasileirão. Destaque para a impressionante goleada por 7 a 2 sobre o Corinthians durante a primeira fase, que impulsionou a confiança da equipe. No entanto, a trajetória nacional foi interrompida pelo Palmeiras. Mesmo com a eliminação, a temporada foi marcante: além do bicampeonato mineiro — dessa vez sobre o América-MG — o Cruzeiro também foi vice-campeão da Supercopa do Brasil, consolidando-se entre as grandes forças do futebol feminino nacional.
No mesmo ano, Ronaldo deixou o comando da SAF e foi sucedido por Pedro Lourenço. O novo proprietário garantiu que não haveria mudanças drásticas na estrutura do futebol feminino e prometeu investimentos progressivos na categoria. Apesar disso, após a conquista do estadual, Kin Saito deixou o cargo, e Bárbara Fonseca reassumiu a gestão da equipe feminina.
Na época, Bárbara comentou sobre a chegada de Pedro Lourenço à SAF e os planos para os investimentos no futebol feminino:
Ele não vai boicotar o futebol feminino. Ele é um gestor apaixonado pelo Cruzeiro. Independente se são homens ou mulheres, vestiu a camisa do Cruzeiro ele defende. O que houve foi um ruído sobre o que seria o investimento – esperava-se o dobro, mas esse dobro nunca foi alinhado. O que ele fez é garantir uma melhora do investimento gradual, para ter um crescimento orgânico.
Temporada atual e perspectivas para o futuro
Para a temporada de 2025, a nova gestão liderada por Bárbara Fonseca e Pedro Lourenço promoveu uma série de mudanças estruturais no departamento de futebol feminino do Cruzeiro. Um dos principais avanços foi a transferência dos treinos para a Toca da Raposa II — centro de treinamento principal do clube — simbolizando um passo importante na valorização da equipe. Além disso, as jogadoras passaram a contar com um uniforme exclusivo da categoria e receberam maior atenção da área de marketing, com campanhas específicas e maior visibilidade nas redes sociais do clube.
No aspecto financeiro, os investimentos também foram significativos. O Cruzeiro destinou R$ 10,5 milhões ao time feminino, número recorde na história da equipe. Com esse aporte, foram realizadas 13 contratações para a temporada, incluindo nomes de peso como a zagueira Isa Haas, com passagens pela Seleção Brasileira. Outro destaque foi o aumento de 50% na folha salarial do elenco.
Em entrevista no início da temporada, Bárbara Fonseca comentou sobre os avanços promovidos na categoria:
“Vocês vão perceber que, nas atletas contratadas, teve investimento. Houve um aumento na folha salarial de atletas em 50%. Isso foi autorizado, chancelado pelo presidente“
As metas atuais das Cabulosas são claras: manter o alto nível competitivo e garantir, pela primeira vez, uma vaga na Libertadores Feminina. Na temporada, o Cruzeiro iniciou com uma boa campanha na Supercopa do Brasil, mas foi eliminado nas semifinais pelo Corinthians. Ainda assim, o desempenho sólido reforça a confiança do grupo.
Líderes do Campeonato Brasileiro Feminino até o momento, as Cabulosas despontam como fortes candidatas ao título nacional — feito inédito para o clube — e à tão sonhada estreia em uma competição continental. A continuidade e evolução do projeto, sob as gestões de Bárbara Fonseca, Kin Saito (atualmente à frente do futebol feminino na Federação Paulista de Futebol) e do técnico Jonas Urias, servem como referência de organização e comprometimento. O modelo adotado pelo Cruzeiro é um exemplo de como a valorização do futebol feminino pode gerar resultados expressivos dentro e fora de campo.