Soja brasileira dispara nas importações chinesas e reforça laços comerciais em meio a safra recorde

As importações chinesas de soja brasileira registraram um crescimento expressivo de 37,5% em maio, totalizando 12,11 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento de Alfândegas da China (GACC). Esse volume representa 87% do total importado pelo país asiático no mês, confirmando o Brasil como seu principal fornecedor agrícola em um cenário de recuperação logística e retomada da demanda por ração animal.

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O avanço expressivo vem após um abril de baixa histórica, quando os embarques caíram para 6,08 milhões de toneladas, o menor nível em uma década. Em maio, o fluxo se restabeleceu com força, beneficiado tanto pela normalização das liberações alfandegárias na China quanto pela retomada da atividade nas indústrias de esmagamento, fundamentais para a produção de farelo de soja usado na suinocultura. Parte desse volume também refletiu cargas atrasadas, liberadas com o descongestionamento portuário.

O desempenho brasileiro ganha ainda mais destaque frente aos seus principais concorrentes. Os Estados Unidos, embora tenham aumentado suas exportações para a China em 28,3% no mês, representaram apenas 11,7% das compras chinesas. No acumulado do ano, os EUA avançaram 34,3%, enquanto o Brasil, afetado por atrasos logísticos no início do ciclo, ainda acumula queda de 14% entre janeiro e maio.

Já a Argentina teve um desempenho muito aquém do esperado: suas exportações de soja para a China despencaram 47,5% no acumulado do ano, com nenhum carregamento registrado em maio, resultado de uma safra menor e dificuldades internas no escoamento agrícola.

O salto nas exportações brasileiras foi possível graças a uma safra robusta, resultado de boas condições climáticas em estados produtores como Mato Grosso, Paraná e Goiás. Com oferta abundante e preços mais competitivos em relação aos norte-americanos, a soja brasileira voltou a ser a preferida dos compradores asiáticos.

Soja brasileira em disparada nas importações chinesas - Foto: Governo do Tocantins
Soja brasileira em disparada nas importações chinesas – Foto: Governo do Tocantins

Simultaneamente, a recuperação do setor de proteína animal na China tem elevado a demanda por farelo de soja, principalmente para alimentar suínos. Após um período de baixa causada por surtos sanitários, o setor voltou a crescer, aumentando o ritmo das importações.

Outro fator relevante foi o atraso nos embarques de março e abril, causado por gargalos logísticos em portos e estradas. Com o escoamento normalizado, muitos navios que estavam em trânsito chegaram à China ao longo de maio, inflando as estatísticas do mês.

As perspectivas para o segundo semestre seguem otimistas, ao menos no curto prazo. Analistas apontam que o terceiro trimestre deve manter volumes elevados, sustentados pela oferta brasileira e pela demanda industrial chinesa. No entanto, o quarto trimestre dependerá fortemente do desenrolar das relações comerciais entre Estados Unidos e China, sobretudo após Washington impor novas tarifas sobre produtos asiáticos que podem chegar a 145%.

Esse ambiente pode favorecer o Brasil, caso haja desvio de compras para evitar taxas mais altas. Por outro lado, uma possível desaceleração econômica na China, apontada por especialistas como Wan Chengzhi, da Capital Jingdu Futures, poderia impactar negativamente o ritmo das importações até o fim do ano.

A alta nas exportações de soja fortalece a balança comercial brasileira, especialmente no setor agroexportador, que segue como pilar das contas externas do país. Em 2025, o grão já responde por cerca de 23% das exportações do agronegócio nacional, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Mais do que números, o desempenho de maio consolida a soja como âncora estratégica na relação comercial Brasil–China, uma parceria que mistura interesses econômicos e logísticos com questões ambientais e de segurança alimentar. Para manter esse protagonismo, o Brasil precisará continuar investindo em infraestrutura portuária, rastreabilidade e acordos bilaterais que garantam previsibilidade e confiança mútua.

“O salto nas importações chinesas em maio não é apenas um alívio estatístico, mas um sinal claro da resiliência da cadeia produtiva brasileira, mesmo diante de desafios logísticos e geopolíticos”, afirmou em nota o Ministério da Agricultura e Pecuária.

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