Em 19 de junho de 2025, o Brasil deu um passo decisivo rumo à abertura do mercado japonês para sua carne bovina. Entre os dias 9 e 13 de junho, o país recebeu uma comitiva técnica do Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão (MAFF), que percorreu três estados do Sul em auditorias sanitárias.
A missão, articulada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), faz parte das negociações avançadas para a habilitação de frigoríficos brasileiros junto ao governo japonês, um dos mais exigentes do mundo em termos de vigilância sanitária.
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A visita, considerada histórica por autoridades brasileiras, contemplou agendas em Brasília, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, estados com status sanitário diferenciado e reconhecido internacionalmente. Segundo o Mapa, os técnicos japoneses avaliaram desde a estrutura do Serviço Veterinário Oficial (SVO) até práticas de vigilância de campo e programas de erradicação de doenças.
O roteiro teve início em Brasília, onde representantes do MAFF reuniram-se com o secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, e o diretor do Departamento de Saúde Animal, Marcelo Mota. Na ocasião, o Brasil apresentou a organização e a abrangência do SVO, além de protocolos de resposta a emergências sanitárias.
Em seguida, a comitiva se deslocou para Biguaçu (SC), onde conheceu de perto a atuação da Cidasc em vigilância ativa, coleta de amostras e análise de doenças infecciosas. No Rio Grande do Sul, o destaque foi o Programa Sentinela, desenvolvido na unidade do Vigiagro em Uruguaiana, que monitora a entrada de enfermidades por zonas de fronteira — neste caso, com a Argentina.
A última etapa foi realizada em Curitiba (PR), onde os japoneses foram recebidos pela Adapar e tiveram acesso aos dados e à operacionalização do Programa Nacional de Vigilância para Febre Aftosa (PNEFA), coordenado pelo governo federal em parceria com os estados.

O timing da missão coincide com um marco relevante: o recente reconhecimento do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Essa conquista é pré-requisito técnico para acessar mercados como o Japão, que atualmente privilegia fornecedores como Estados Unidos e Austrália devido a restrições sanitárias históricas ao produto brasileiro.
O Japão movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão por ano em importações de carne bovina, com demanda concentrada em cortes premium. A eventual abertura permitiria ao Brasil competir diretamente nesse segmento, trazendo ganhos para a indústria exportadora e ampliando o portfólio de destinos de alto valor agregado.
Além disso, o acordo comercial prevê cláusulas ambientais de longo prazo, com destaque para o apoio japonês à recuperação de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil, em linha com as metas de sustentabilidade da agropecuária nacional.
Segundo o Ministério da Agricultura, o relatório técnico da missão será concluído em julho, e a decisão final sobre a habilitação de plantas frigoríficas brasileiras deverá ser anunciada até setembro de 2025. As exportações efetivas podem começar ainda no último trimestre deste ano, caso não haja restrições adicionais.
Outro avanço importante foi a adoção, por parte do Japão, de um novo modelo de regionalização sanitária, que limita embargos apenas aos municípios afetados por doenças específicas, como a influenza aviária. Essa atualização torna o comércio bilateral mais previsível e reduz o risco de bloqueios generalizados em caso de surtos localizados.
Apesar do otimismo, especialistas do setor alertam para entraves que ainda precisam ser superados. Um dos principais é a rastreabilidade individual dos animais, exigência central do Japão e que ainda está em fase inicial de adoção no Brasil. O sistema brasileiro, mais baseado em lotes, precisará avançar em tecnologias de identificação e monitoramento.
Além disso, a concorrência internacional segue acirrada. Com os efeitos das tarifas comerciais entre Estados Unidos e China, os preços globais da carne estão sob pressão, e novos acordos exigem adaptação rápida da cadeia de produção nacional.
“A auditoria reforça a credibilidade do Brasil como fornecedor global. Integramos Mapa, serviços estaduais e setor produtivo para atender padrões internacionais”, destacou o Ministério da Agricultura em nota oficial.