Dólar se mantém acima de R$ 5,50 em meio a tensão monetária e travas fiscais

Hoje, o mercado financeiro brasileiro encerrou a sessão com sinais de retenção e prudência. O dólar comercial subiu levemente, fechando a R$ 5,50, enquanto a PTAX, média calculada pelo Banco Central avançou para o valor aproximado de R$ 5,49, alta de 0,19% no dia. A cotação do dólar turismo caiu modestamente para R$ 5,70, refletindo um respiro na demanda de curto prazo, mas ainda sem alterar a estrutura de aversão ao risco.

O recuo sutil do euro comercial, cotado a R$ 6,3108, acompanha o movimento do câmbio global, enquanto o petróleo tipo Brent manteve-se estável ao redor de US$ 67,04 o barril, um fator chave para os exportadores brasileiros e para o controle da inflação importada.

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Já, o Federal Reserve manteve a taxa de juros dos EUA entre 4,25% e 4,50%, pela quarta reunião consecutiva. O comunicado que seguiu a decisão destacou o impacto das tensões geopolíticas no Oriente Médio e uma expectativa de crescimento mais modesta para a economia americana com o PIB de 2025 agora projetado em 1,4%, abaixo dos 1,7% anteriores. A inflação deve se manter em torno de 3%, segundo estimativas do próprio Fed.

Jerome Powell, presidente da instituição, afirmou que “não há urgência para reduzir os juros“, o que indica que a política monetária continuará sendo utilizada como ferramenta de contenção inflacionária, mesmo que isso implique desaceleração econômica. Essa leitura reforça a tendência de manutenção de capital estrangeiro nos EUA, pressionando moedas emergentes, como o real.

No Brasil, a resposta do Banco Central foi igualmente conservadora: o Copom elevou a Selic para 15% ao ano, o nível mais alto desde 2006. A medida é uma reação direta ao avanço da inflação, ao desequilíbrio das contas públicas e ao cenário externo volátil. Segundo projeção do próprio BC, a inflação pode chegar a 3,6% em 2026, caso o câmbio continue pressionado e a agenda de ajuste fiscal permaneça travada.

Apesar da pressão cambial, os dados domésticos de preços sinalizam um respiro. O IPCA de maio fechou em 0,26%, resultado abaixo das expectativas. Porém, os alimentos continuam pesando no bolso da população: em 12 meses, acumulam alta de 9,3%, segundo o IBGE. O consumo das famílias, portanto, segue pressionado e deve permanecer assim enquanto os juros continuarem elevados.

No campo da atividade econômica, o IBC-Br índice que antecipa o comportamento do PIB registrou alta de 0,80% em abril, sinalizando um desempenho moderado no segundo trimestre. O resultado, embora positivo, ainda não é suficiente para compensar o impacto restritivo da política monetária sobre crédito, consumo e investimentos.

O que o mercado observa agora?

O foco dos investidores se desloca para os próximos dados de inflação, especialmente o IPCA-15, previsto para os próximos dias. Um resultado acima de 0,4% pode reacender as apostas em novas altas da Selic. No exterior, o mercado acompanha os próximos relatórios de emprego e consumo dos EUA, que devem reforçar ou enfraquecer o atual ciclo de aperto monetário.

Além disso, commodities como o petróleo e o minério de ferro seguem no radar. A manutenção de preços estáveis nesses produtos é essencial para a balança comercial brasileira e para a estabilidade cambial, ainda mais num contexto de juros altos e crescimento desacelerado.

A permanência do dólar acima de R$ 5,50 mostra que o Brasil ainda não conseguiu convencer o mercado de que há um caminho claro para o equilíbrio fiscal. Juros elevados ajudam a conter a inflação, mas também travam o crescimento e não substituem a credibilidade institucional necessária para atrair capital de longo prazo.

 

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