China negocia compra de 500 aviões da Airbus em meio à tensão com EUA

A China está em fase avançada de negociações para adquirir entre 200 e 500 aeronaves da Airbus, o que pode resultar em um dos maiores acordos comerciais da história do setor aéreo no país. A possível compra, avaliada em bilhões de dólares, ocorre em um contexto de crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos, o que poderia aprofundar o isolamento da fabricante americana Boeing no território chinês.

Segundo fontes ligadas ao processo, o anúncio oficial pode ocorrer já no próximo mês, durante uma visita de líderes europeus a Pequim, ocasião que será marcada pelo reforço da parceria estratégica entre a China e a União Europeia. O pacote incluiria aviões de corredor único e também modelos de fuselagem larga (widebody), que são utilizados em rotas de longa distância.

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Embora nenhuma declaração oficial tenha sido emitida até o momento pela Airbus ou pela autoridade de aviação civil chinesa, os reflexos do avanço nas negociações já foram sentidos nos mercados internacionais. As ações da Airbus registraram alta de 4,1% na Bolsa de Paris, impulsionadas pela expectativa do mega contrato. Já os papéis da Rolls-Royce Holdings, empresa britânica especializada na fabricação de motores para aviões de fuselagem larga, também apresentaram valorização no pregão de Londres.

A encomenda é vista como um movimento estratégico do governo chinês para consolidar a presença da Airbus no mercado doméstico, em detrimento da Boeing, que vem enfrentando dificuldades para fechar novos contratos com empresas chinesas desde 2017. Além das questões geopolíticas, a Boeing também foi prejudicada por problemas técnicos em seus aviões, como a série de falhas envolvendo o modelo 737 Max.

Fontes próximas à negociação apontam que uma parte significativa do pedido pode ser composta por modelos A330neo, um dos principais jatos widebody da Airbus. A escolha por esse tipo de aeronave mostra que a China busca expandir suas operações internacionais, especialmente com companhias que operam rotas intercontinentais.

Nos últimos anos, a Airbus vem fortalecendo sua atuação no mercado chinês com a instalação de uma linha de montagem da família A320 em Tianjin. Essa base estratégica tem desempenhado um papel essencial ao agilizar as entregas e consolidar a relação com companhias aéreas locais. A China, que desponta como um dos principais mercados de aviação global, tornou-se uma prioridade para a expansão da fabricante europeia.

Boeing continua em desvantagem no mercado

Por outro lado, a Boeing segue em desvantagem. Além das restrições políticas impostas durante os mandatos de Donald Trump e Joe Biden, a fabricante americana ainda sofre com a perda de credibilidade após novos episódios de falhas técnicas. Um dos mais recentes envolveu um incidente com a porta de emergência de um 737 Max, que se desprendeu durante o voo, reacendendo alertas sobre a segurança de seus modelos.

Mesmo após retomadas pontuais nas entregas, a presença da Boeing na China é cada vez mais reduzida. Seu último grande feito não aconteceu em solo asiático, mas sim no Oriente Médio, com uma encomenda de até 210 aeronaves pela Qatar Airways, considerada a maior da história em valor para a empresa americana.

Caso China e Airbus finalizem negociação, mercado aéreo pode mudar

Caso a negociação entre China e Airbus seja finalizada nos moldes atuais, o contrato superará o acordo de 2022, quando o país asiático adquiriu aproximadamente 300 aviões de corredor único, em um negócio estimado em US$ 37 bilhões. Desta vez, o volume pode chegar a meio milhar de jatos, consolidando-se como o maior pedido já registrado pela aviação comercial chinesa.

Na China, grandes encomendas de aeronaves costumam ser feitas por meio de um órgão estatal que representa todas as companhias aéreas locais. Essa prática centralizada permite à China manter o controle sobre negociações estratégicas e alinhar decisões comerciais com seus interesses diplomáticos e industriais.

A possível assinatura desse acordo reforça a posição da Airbus como líder no fornecimento de aviões para o mercado chinês, enquanto aprofunda o afastamento entre a China e a Boeing, num cenário cada vez mais influenciado por disputas econômicas e políticas globais. Além disso, sinaliza que a Europa pode se tornar o principal parceiro da aviação chinesa, em um momento de redefinição das alianças comerciais no setor aeroespacial.

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