Apesar de ter subido quatro posições no ranking global de competitividade, o Brasil continua figurando entre os piores colocados. O levantamento, realizado pelo Institute for Management Development (IMD) em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), posiciona o país na 58ª colocação entre 69 nações avaliadas em 2024.
O avanço, embora positivo, tem caráter pontual e foi impulsionado por fatores conjunturais, como o aumento do investimento estrangeiro e a geração de empregos. No entanto, especialistas alertam: a melhora não significa que o país tenha superado seus entraves estruturais.
“Subir é sempre uma boa notícia, mas estruturalmente o Brasil ainda está longe de ser um país competitivo de verdade”, afirma Hugo Tadeu, diretor do núcleo de Inovação e Tecnologias da FDC.
Onde o Brasil vai bem… e onde ainda patina
O ranking avalia quatro pilares: desempenho econômico, eficiência governamental, eficiência empresarial e infraestrutura. O melhor resultado do Brasil está no desempenho econômico, onde ocupa a 30ª posição. O país se destaca em indicadores como fluxo de investimentos estrangeiros (5º lugar), geração de empregos de longo prazo (7º), empreendedorismo inicial (8º) e participação nas energias renováveis (5º).
Por outro lado, os gargalos seguem gritantes. O Brasil amarga as últimas posições em aspectos essenciais: educação básica (69º), domínio de idiomas (69º), produtividade da mão de obra (67º), qualificação profissional (68º) e custo do capital (69º).
“Estamos crescendo apoiados nos setores tradicionais, como agronegócio e mineração. Mas sem mão de obra qualificada, inovação e tecnologia, esse crescimento não se sustenta”, alerta Tadeu.
Crescimento com pernas curtas
O salto de quatro posições é visto mais como um reflexo de fatores de curto prazo do que como uma transformação estrutural. Segundo Tadeu, o avanço foi puxado por aumento na renda per capita, maior investimento industrial e crescimento na formação de capital.
“Isso não se traduz em competitividade sustentável. Países que estão no topo, como Suíça, Cingapura, Dinamarca e Taiwan, têm uma estratégia clara, investem em educação, inovação e oferecem estabilidade regulatória”, compara.
O Brasil, segundo ele, segue adotando medidas pontuais e emergenciais, sem um projeto robusto de desenvolvimento de longo prazo.
Na contramão do mundo
O relatório ainda aponta que o país segue no caminho oposto das economias mais competitivas, especialmente no quesito ambiente de negócios. A elevação de impostos, como o aumento do IOF e da carga tributária, encarece o custo do dinheiro e desestimula investimentos.
“A gente sufoca quem quer produzir. Enquanto o mundo cria ambiente favorável, nós tornamos tudo mais caro e mais difícil”, critica Tadeu.
Outro ponto de atenção é o uso exagerado de subsídios. Apesar de ajudarem setores específicos, eles não substituem uma estratégia consistente de desenvolvimento.
O que fazer para mudar esse cenário?
Na avaliação do especialista, reduzir o custo do capital é urgente. Isso passa por uma reforma tributária eficaz, estabilidade regulatória e um ambiente mais previsível para investidores.
Também é fundamental investir pesado na qualificação da mão de obra, especialmente em pequenas e médias empresas, além de preparar lideranças para a transformação digital.
“O mundo já opera na lógica da inovação, da tecnologia e da sustentabilidade. O Brasil precisa acelerar se quiser jogar esse jogo”, conclui.
O relatório reconhece que o país tem pontos fortes, como a matriz energética limpa e a capacidade de atrair investimentos. Mas, sem atacar os problemas estruturais, o risco é continuar sendo uma eterna promessa, com crescimento de voo curto e instável.