Dia do Orgulho Nerd: A Ascensão dos Silenciados

Comemorado em 25 de maio, o Dia do Orgulho Nerd celebra não só o legado de clássicos como Star Wars e O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas também a virada de chave de uma cultura que foi marginalizada e que hoje molda o futuro. “Fingir ser algo que você não é… é mais cansativo do que ser rejeitado por quem você realmente é”, diz Narumi Momose, protagonista do anime Wotakoi: O Amor é Difícil para Otakus. A frase resume bem o sentimento de uma geração que, após anos de rejeição, se tornou um dos setores mais lucrativos do mundo.

De acordo com a Brandar Consulting, em 2021, o mercado geek movimentou US$ 300 bilhões globalmente. Em 2022, o Brasil foi responsável por quase US$ 6 bilhões desse montante. Segundo o estudo da Global Licensing Industry, a cultura nerd está entre os dez setores que mais faturam no mundo.

Leia mais: Festival de Cannes: O Agente Secreto conquista prêmios de Melhor Ator e Diretor

Do Estigma ao Estrelato: Quando Ser Nerd Era Suspeito

Nem sempre foi assim. Após o Massacre de Columbine, que completou 25 anos em 2024, os nerds passaram a ser vistos com desconfiança nos Estados Unidos, já que os assassinos eram descritos como solitários, fãs de tecnologia e jogos violentos. Uma matéria do The New York Post, de abril de 1999, estampava o título: “Geeks letais foram feitos um para o outro”, alimentando o medo e o estigma.

Na Ásia, o Japão viveu algo semelhante com o caso de Tsutomu Miyazaki, conhecido como “O Assassino Otaku”, que chocou o país no final dos anos 1980 por sua obsessão com animes e vídeos perturbadores. Já no Brasil, em 2017, dois criminosos que invadiram um apartamento em Santos viralizaram como os “bandidos geek” por estarem vestidos com camisetas de super-heróis.

Esses episódios refletem o preconceito que por muito tempo perseguiu fãs da cultura nerd, vistos como antissociais, estranhos ou até perigosos. Mas tudo começou a mudar com uma explosão — ou melhor, com uma armadura vermelha.

Tony Stark, MCU e a Era da Aceitação

O lançamento de Homem de Ferro, em 2008, foi um divisor de águas. O investimento no personagem parecia arriscado, mas ninguém esperava que um gênio, bilionário, playboy e nerd se tornaria o pontapé inicial de um império.

Imagem: Disney+/Divulgação

Com menos de US$ 200 milhões de orçamento, o filme faturou mais de meio bilhão de dólares e deu início ao Universo Cinematográfico Marvel (MCU). Mais que sucesso de bilheteria, inaugurou um novo universo simbólico onde nerds e geeks finalmente deixaram as sombras, ganharam voz e, mais do que isso, passaram a comandar a conversa.

No Brasil, essa transformação chegou também às periferias. Em entrevista ao Portal Terra, William Mota Viana, da Zona Norte de São Paulo, declarou:

“Nunca foi fácil ser nerd. A gente sempre era zoado e na quebrada você sempre tinha que manter a pose de malvado.”

Da Zona Leste, o cosplayer Renato Lima, com 13 anos de trajetória, compartilhou:

“É difícil, mas de certa forma veio dar representatividade para pessoas nerds, geeks e gordas. Hoje a molecada da minha quebrada que curte esse mundo acha bem legal que existam pessoas lá que gostam da mesma coisa que elas.”

Nerdcracia: O Nerd no Comando

De fora da festa para dentro da Casa Branca. Nomes como Jeff Bezos, Mark Zuckerberg e Elon Musk são exemplos de nerds que dominaram o topo da cadeia corporativa. Há mais de uma década, Bill Gates já alertava:

“Seja gentil com os nerds, porque é bem provável que você acabe trabalhando para eles.”

Mas nem tudo são heróis e sabres de luz. Com esse domínio, vieram questionamentos éticos e sociais. O jornalista Miquel Echarri, do jornal El País, destaca a ascensão do “nerd maligno”, um novo tipo de anti-herói corporativo comparado a vilões clássicos como Lex Luthor.

George Dillard, do Medium, afirma que até os nerds mais discretos, como Bezos e Zuckerberg, enxergam na era atual sua coroação definitiva, impulsionada por movimentos populistas como o de Donald Trump.

Ou seja: os nerds realmente chegaram em todos os lugares — inclusive no poder.

Do Silêncio à Influência

Do “esquisito” da escola ao CEO de big techs, o nerd passou por diversas transformações e segue se reinventando. Hoje, o que antes era motivo de piada virou questão de identidade, pertencimento e representatividade. Mas vale lembrar: o orgulho nerd não nasceu do hype, nasceu da resistência.

Comemorar o Dia do Orgulho Nerd é reconhecer a trajetória de uma comunidade que sobreviveu ao bullying, que inventou seus próprios heróis e que escreveu uma nova narrativa onde antes havia exclusão. É olhar para o passado com respeito e para o presente com potência porque embora o jogo tenha virado, a luta por respeito, diversidade e inclusão no universo geek ainda está em curso.

Com o tempo, o nerd deixou de ser apenas aquele estereótipo hollywoodiano. Hoje, a menina popular, o atleta, o artista e o gamer coexistem nesse novo ecossistema. Porque, no fim das contas, dominar as trends é só mais uma vitória. A verdadeira revolução nerd está em ocupar todos os espaços com liberdade, coragem e, claro, uma toalha na mochila.

Feliz Dia do Orgulho Nerd para todos nós — inclusive para mim, a jornalista que vos escreve. 

Autor

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *