Octávio Santiago provoca debate na Feira do Livro de SP

No anoitecer de 16 de junho, a mesa “Só sei que nada sei”, na Feira do Livro de São Paulo, reuniu olhares atentos diante da fala afiada do jornalista e escritor potiguar Octávio Santiago. Com base em seu mais novo livro “Só Sei Que Foi Assim: A Trama do Preconceito Contra o Povo do Nordeste”, Santiago questiona os persistentes estereótipos, o apagamento histórico e a maneira como o Brasil olha — ou prefere não olhar — para os nordestinos.

“O Brasil inteiro tá celebrando o Nordeste agora com São João. Mas precisa rever o quanto celebra o Nordestino, sabe? No caso, o quanto não celebra o Nordestino”, afirmou em entrevista ao portal ponto 360.

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Lançada pela editora Autêntica, a obra, é fruto de sua pesquisa de doutorado em Portugal, e mergulha na origem do preconceito que atinge o Nordeste — desde discursos em novelas e obras literárias, até declarações recentes de figuras políticas contemporâneas. Com uma escrita crítica e ao mesmo tempo acessível, o autor mapeia como o jornalismo, a literatura e o audiovisual contribuíram para enraizar imagens distorcidas da região e de seu povo.

Na entrevista concedida logo após a mesa, Santiago comentou sobre a importância simbólica de levar seu livro em um dos maiores eventos literários do país:

“Eu acho que a alegria que eu tô, na verdade, não é nem sobre mim ou sobre o livro, mas sobre a pauta. Eu acho que a pauta precisava ter essa atenção mesmo. E eu tô feliz com o livro que só existe há 20 dias no mundo já tenha chegado para ocupar esses espaços que são legítimos dessa pauta, é muito importante pra gente repensar a maneira como o Brasil olha pro Nordestino”

Ele reforça que o livro existe há apenas 20 dias, mas já ocupa um espaço de destaque, o que revela a urgência e o desejo coletivo de rever o olhar construído sobre o Nordeste. Ao contrário, ele se atualiza nas falas e nas representações midiáticas e populares que mascaram a manutenção das desigualdades históricas.

Em nossa conversa, o autor lembra:

“O Brasil olha pro Nordestino, com um de olhar torto, um olhar de inferioridade, de subalternidade, que a gente precisa muito atualizar pra fazer com que isso seja corrigido e que outros Nordestinos não passem pela privação de oportunidades ou pela discriminação gratuita e que dialoga, na verdade, como um projeto social, econômico e político, que tem como os pilares fundamentais do racismo”.

Segundo Santiago, o protagonismo da juventude nordestina é uma das chaves para romper essa narrativa:

“Talvez a gente seja o jovem mais bem informado do Brasil. Que busca mais canais de informação, que está no controle de saber se aquilo é fake news ou não. E que reconhece que aquele lugar que nos colocam nas novelas, na comédia ou na exclusão, não nos pertence.”.

Em um uma cultura que ainda insiste em subcatorizar sua população em estereótipos, o livro de Santiago e sua presença na Feira do Livro são mais do que um lançamento editorial: são um chamado à reconfiguração da memória coletiva.

“Agora firme nessa voz, essa vontade de falar e de fazer com que o Brasil perceba que é diferente… reconhecem nesse livro uma possibilidade de enfrentamento dessa estrutura.” , diz o autor.

Foto: Iara Venancio

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Um comentário

  • Bom dia,
    Está aí um assunto que não se esgota, porque essa cisão “norte x Sul” no Brasil é vêm de tempos coloniais.
    Agora fiquei muito curiosa (e ansiosa) para ler o livro.

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