No campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um novo espaço de memória e resistência foi inaugurado para homenagear o padre Antônio Henrique Pereira Neto, brutalmente assassinado pela repressão política em 1969. O memorial, instalado próximo ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), marca um gesto simbólico e histórico de reparação, preservando a trajetória de um jovem sacerdote que dedicou sua vida à justiça social e aos direitos humanos durante os anos de chumbo da ditadura civil-militar.
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Padre Henrique, como era conhecido, foi assassinado aos 27 anos, no auge da repressão instaurada após o AI-5. Ele atuava junto às comunidades de base e à juventude católica, alinhado ao arcebispo Dom Hélder Câmara, figura central da resistência à ditadura. Em 27 de maio de 1969, após ser sequestrado, seu corpo foi encontrado com sinais de tortura no bairro de Curado, no Recife. O crime chocou o país e tornou-se um marco da violência de Estado contra lideranças religiosas progressistas.
O memorial é composto por painéis informativos, fotos, documentos e uma escultura em bronze representando o sacerdote. Além disso, há um espaço de convivência e reflexão, com bancos e vegetação nativa, pensado como um ponto de encontro para estudantes, professores e visitantes.

GRANDE MARCHA – Dom Helder com uma multidão no cortejo do Padre Henrique. (Foto: Arquivo/Jornal A Verdade)
A solenidade de inauguração contará com a presença de autoridades acadêmicas, representantes da Igreja, familiares de padre Henrique, ex-presos políticos e militantes dos direitos humanos. Em sua fala, a reitora da UFPE, Maria de Lourdes de Araújo, destaca que o memorial “não é apenas uma homenagem, mas um compromisso com a verdade, a memória e a democracia.”
Dom Antônio Tourinho, representante da Arquidiocese de Olinda e Recife, ressaltou a importância do resgate histórico: “Padre Henrique representa a juventude martirizada por sonhar com um país mais justo. Que sua memória inspire as novas gerações.”
O projeto foi idealizado pelo Núcleo de Estudos de Violência e Direitos Humanos da UFPE em parceria com o Comitê Dom Hélder Câmara e financiado com recursos do Ministério dos Direitos Humanos. A proposta surgiu a partir das mobilizações estudantis que reivindicavam maior visibilidade às vítimas da repressão no ambiente universitário.
O memorial reforça a necessidade de manter viva a lembrança de quem lutou contra a tirania. Em tempos de negacionismo e ameaças à democracia, a figura de padre Henrique ecoa como símbolo de fé, coragem e resistência.

Padre Henrique celebrando a missa – Foto: Arquivo
“Este espaço é um grito de memória contra o silêncio da ditadura”, disse Ana Lúcia Pereira, sobrinha do padre e uma das principais articuladoras do projeto. “O Brasil precisa lembrar para não repetir.”
Com o memorial, a UFPE se junta a outras universidades brasileiras que têm reafirmado o compromisso com a justiça de transição e a preservação da história recente do país. Padre Henrique vive, agora, não apenas na lembrança dos que o conheceram, mas também na paisagem e na consciência de uma universidade que se recusa a esquecer.