Encerrar uma das franquias de terror mais emblemáticas do século XXI não é tarefa simples. Desde 2013, quando James Wan estreou o primeiro ‘Invocação do Mal‘, o público foi conduzido por casas assombradas, rituais demoníacos e sustos que redefiniram o gênero.
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A saga dos investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren se tornou, ao mesmo tempo, fenômeno de bilheteria e referência estética. Agora, em 2025, chega ‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual‘, dirigido por Michael Chaves, com a promessa de ser o capítulo derradeiro dessa trajetória. A pergunta inevitável é: a franquia conseguiu se despedir com a força que construiu seu legado?

A resposta, infelizmente, é ambígua. O ‘Último Ritual’ é um filme que se movimenta em duas direções: de um lado, o desejo de homenagear e humanizar o casal Warren; de outro, a necessidade de sustentar a atmosfera de horror que sempre foi a marca registrada da franquia. Ao tentar equilibrar essas duas vertentes, Chaves entrega um resultado irregular — digno em sua intenção, mas incapaz de alcançar o impacto dos primeiros filmes.
A narrativa deixa claro, desde os instantes iniciais, que esta é uma despedida. Ed, debilitado pela saúde, e Lorraine, cada vez mais exausta por suas visões, são apresentados não apenas como caçadores de demônios, mas como pessoas em fase de declínio. O filme investe no cotidiano: Judy, a filha, prepara-se para o casamento enquanto lida com sua própria sensibilidade ao sobrenatural; os pais enfrentam a solidão do envelhecimento e a perda de relevância. É uma tentativa de aproximar os espectadores dos personagens, mostrando-os sem os véus da mitologia que a franquia construiu.

Esse gesto seria louvável se não custasse caro ao gênero. Ao privilegiar os dramas familiares, o roteiro enfraquece o que sempre foi o motor da série: o horror palpável. A assombração que move a trama surge como pano de fundo, e quando finalmente ganha espaço, a sensação é de atraso. O filme passa a impressão de que a casa está pronta para o exorcismo, mas os demônios não chegam a tempo da cerimônia.
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Ainda assim, há lampejos de inspiração. A sequência dos espelhos com Judy é, provavelmente, a melhor cena que Chaves já dirigiu — uma demonstração de criatividade visual que transforma reflexos em armadilhas e devolve ao público a tensão que parecia perdida. Há também mérito na construção do espaço físico da casa assombrada, que, apesar de não ter a mesma identidade de outras locações icônicas da franquia, se torna terreno fértil para os últimos trinta minutos, quando o filme finalmente encontra o ritmo e cria uma atmosfera de desespero mais convincente.

Se a direção não alcança o impacto desejado, o elenco é quem sustenta o peso emocional. Patrick Wilson e Vera Farmiga voltam a provar por que se tornaram o coração pulsante da franquia. A química entre eles continua intacta, e sua interpretação dá dignidade a um texto que, em muitos momentos, não os acompanha. Ed e Lorraine jamais soam como protagonistas genéricos de terror; ao contrário, são figuras que exalam calor humano e devoção mútua. É graças a essa entrega que o filme consegue carregar um mínimo de emoção em sua despedida.
O grande problema é que, enquanto James Wan sabia equilibrar intimidade e terror, Chaves ainda parece indeciso entre um e outro. O resultado é um filme que, embora traga momentos competentes, nunca se aproxima da intensidade do primeiro ‘Invocação do Mal’ ou da imponência de ‘Invocação do Mal 2‘. O que se vê, em essência, é uma obra que reconhece a grandiosidade de sua herança, mas não encontra meios de corresponder a ela.
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Ao final, resta a sensação de um crepúsculo: não o espetáculo do nascer do sol que inaugurou a franquia, mas uma despedida serena, melancólica, ainda assim bela à sua maneira. O Último Ritual‘ não é um clímax apoteótico, mas uma prece final, carregada mais pelo afeto dos intérpretes do que pelo terror da narrativa.
Se a saga dos Warren se despede sem o brilho de outrora, pelo menos o faz com dignidade. E talvez esse seja o maior mérito do filme: reconhecer que o terror um dia foi sua linguagem, mas que o amor entre Ed e Lorraine é o verdadeiro legado que ficará na memória do público.
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MAS, E A NOTA?
Invocação do Mal 4: O Último Ritual encerra a franquia de Ed e Lorraine Warren em tom de despedida melancólica. O filme dirigido por Michael Chaves busca equilibrar o drama familiar do casal com o horror sobrenatural, mas acaba perdendo força no gênero que consagrou a saga. Embora falte o impacto e a intensidade dos dois primeiros longas de James Wan, há momentos de inspiração — como a cena dos espelhos com Judy — e uma reta final mais atmosférica.
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O verdadeiro destaque está nas atuações de Patrick Wilson e Vera Farmiga, que sustentam a emoção e dão dignidade ao desfecho. O resultado é irregular: não alcança a grandeza do início, mas oferece uma despedida calorosa e respeitosa aos personagens.
PONTO 360 avalia: 6/10 — Um desfecho melancólico e irregular, mas digno, sustentado pela força de Patrick Wilson e Vera Farmiga. ‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual‘ não alcança o impacto dos primeiros filmes, mas oferece uma despedida calorosa ao casal Warren.
Ficha técnica

- Título original: The Conjuring: Last Rites
- Ano: 2025
- País: EUA
- Classificação: 16 anos
- Duração: 175 min
- Gênero: Terror Sobrenatural
- Direção: Michael Chaves
- Roteiro: Ian Goldberg I Richard Naing I David Leslie Johnson-McGoldrick
- Elenco principal: Vera Farmiga | Patrick Wilson | Mia Tomlinson | Ben Hardy | Beau Gadson | Kíla Lord | Elliot Cowan | Rebecca Calder | John Brotherton