Em 13 de dezembro de 1968, o Brasil atravessou uma fronteira sem retorno. A assinatura do Ato Institucional nº 5 (AI-5) marcou o início do período mais violento, repressivo e obscuro da ditadura militar instaurada em 1964. A partir daquele decreto, o Estado brasileiro passou a operar oficialmente fora dos limites do direito, institucionalizando a exceção como regra, o famoso golpe dentro do golpe.
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O AI-5 concedeu poderes absolutos ao regime: fechamento do Congresso Nacional, suspensão de direitos políticos, cassações sumárias, intervenções em estados e municípios, censura prévia à imprensa, à cultura e às artes. Na prática, abriu caminho para prisões arbitrárias, torturas , assassinatos e desaparecimentos forçados muitos dos quais permanecem sem respostas até hoje.
Se antes a repressão já era uma realidade, após o AI-5 ela se tornou política de Estado. Jornalistas foram silenciados, artistas perseguidos, professores demitidos, estudantes presos e militantes políticos caçados.
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O medo passou a organizar a vida cotidiana, enquanto os porões da ditadura se consolidavam como espaços de violência extrema e impunidade. A imprensa sofreu um dos golpes mais profundos. Redações foram invadidas, matérias vetadas, jornais apreendidos. Quando o silêncio era imposto, receitas de bolo, poemas ou páginas em branco denunciavam, de forma indireta, a censura. Ainda assim, muitos jornalistas resistiram, transformando a apuração e a memória em atos de coragem.
Suas marcas seguem presentes nas disputas sobre memória, verdade e justiça. O negacionismo histórico, as tentativas de relativizar a ditadura e a exaltação de seus agentes revelam o quanto o país ainda não elaborou plenamente esse trauma coletivo.
Em um Brasil onde a violência de Estado ainda atinge corpos específicos e onde o autoritarismo insiste em reaparecer sob novas roupagens, a memória se torna uma forma de resistência.









